O Estado de S. Paulo |
26/10/2006 |
Ganhe quem ganhar, só há dois caminhos para que a economia brasileira saia deste marasmo: investimento e aumento de nossa participação no comércio internacional, principalmente da exportação. Em coluna anterior, para presidente, eu dei meu voto para o investimento. E nesta, para vice, voto no aumento da nossa participação no comércio internacional. Tem havido muita festa, muita alegria em Brasília com os resultados dos dois últimos anos - Viva! Viva! Temos superávits!!! -, mas poucos se recordam que continuamos representando pouco mais de 1% do comércio mundial. Queiramos ou não, estamos atrasados e cabe ao novo governo agir com rapidez. Continuamos sendo conhecidos no mercado como exportadores de produtos básicos, que representam 30% das vendas externas brasileiras. Já começamos a aumentar a participação de produtos manufaturados e semimanufaturados, mas "há um mundo a conquistar, se acrescentarmos o setor de serviços", afirma Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi, professor titular da FEA-USP, diretor da Fundação Instituto de Administração e coordenador do Programa de Comércio Exterior Brasileiro e do MBA Comércio Internacional, em artigo publicado no anuário Análise Comércio Exterior - 2006. O anuário (www.analise.com) vai a fundo em todos os temas ligados ao comércio exterior. Não falta nada, desde estatísticas atualizadas a análises profundas. AQUELES QUE GERAM EMPREGOS! No artigo do prof. Grisi, há números impressionantes, que mostram a extrema importância de o Brasil deixar de ser apenas um exportador de commodities. "Ao começar a dar mais atenção aos manufaturados e semimanufaturados, estamos no caminho certo, mas é preciso fazer mais - setor privado e governo. No mercado internacional, a madeira bruta (que, aliás exportamos muito para a China...) vale US$ 0,14 por quilo, enquanto os móveis (que, lembra a coluna, a China exporta maciçamente...) valem U$ 1,88 por quilo, ou seja 13 vezes mais!", mostra ele. Querem mais? A indústria de couro é um exemplo emblemático da necessidade não só de criação de empregos, mas também de ganho, de receita cambial. "O couro simples vale no mercado internacional apenas US$ 0,80 por quilo, enquanto os calçados, US$ 21,96! Ou seja, 27 vezes mais. E a coluna volta a lembrar que a China, grande importadora de couro nacional e exportadora de calçados, simplesmente roubou do Brasil 80% do mercado americano, como demos outro dia. É este o caminho que o Brasil precisa seguir, correndo porque está atrasado. MARCA É IMPORTANTE Para o prof. Grisi, a "marca" do produto exportado é uma peça importante para o consumidor final e representa um campo fértil para as empresas brasileiras. E ele faz algumas perguntas intrigantes: "Quantas marcas brasileiras são conhecidas mundialmente? No nosso design, a marca é referência internacional? As pessoas, no mundo, associam nossos produtos às nossas marcas? Estamos presentes na distribuição?" A verdade é que as marcas dominantes no mercado internacional se sobressaem aos produtos concorrentes. E estamos falando em refrigerante, relógio, hambúrguer, aparelho de barbear, coisas do dia-a-dia que estão em todas as lojas e supermercados mundiais! E o que estamos fazendo? O prof. Grisi responde no artigo do anuário, página 58, que o primeiro passo que estamos dando é o desenvolvimento da "marca Brasil". Isso tem um papel importante na abertura de novos portos. "No entanto o esforço é primário, basilar. O esforço de marketing pode descortinar um novo horizonte para as empresas brasileiras. É preciso que o empresariado brasileiro assuma o papel de ocupar as novas fronteiras com produtos de maior valor agregado (que não só geram mais renda, como também emprego interno e, conseqüentemente, consumo e crescimento). É esse o trabalho, é essa a missão urgente do novo governo que não deveria se limitar a festejar aumentos de exportação como se essa fosse a única resposta para tudo, pois, afirma a coluna, eles podem impressionar aqui dentro, dão até ibope, ajudam na eleição, mas lá fora são valores apenas marginais. Um país com o potencial industrial do Brasil, com suas Federações da Indústria, não pode se contentar com o "cercado" do mercado interno protegido por tarifas, tem de arregaçar as mangas e trabalhar. Vender ali na esquina é importante, porém mais importante é conquistar um mercado externo que não pára de crescer. Não estamos indo para a frente na velocidade certa. Ficamos na marola. E, acreditem, Publishcom esse câmbio aí vamos ficar ensaiando por muito tempo a não ser que o empresário brasileiro e o novo governo acordem e parem de brigar um contra o outro, começando a ler, folha por folha, as 346 páginas do Anuário Análise Comércio Exterior - 2006. É lição de casa... |