OS DADOS divulgados ontem pelo IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), referentes ao PIB do segundo trimestre de 2006, decepcionaram. A produção nacional cresceu 1,2% ante o mesmo período do ano passado, abaixo da mediana das expectativas, que girava em torno de 2%, fazendo com que o crescimento acumulado nos últimos 12 meses recuasse para medíocre 1,7%. A pergunta que nos vem imediatamente à mente é: qual é a razão pela qual a economia brasileira vem reagindo tão timidamente a vigorosos impulsos de demanda? Afinal de contas, desde o final do ano passado o governo federal vem expandindo a política fiscal -tanto por meio de aumento de gastos e transferências como de redução pontual de impostos-, os juros caíram ao patamar mais baixo da história recente e o mundo acelerou sua taxa de crescimento. A resposta não é imediata e envolve uma série de aspectos. Em primeiro lugar, o resultado não foi tão ruim como a manchete aparenta. Por um lado, o consumo das famílias continua crescendo a taxas vigorosas, perto de 4% ao ano, que não têm se traduzido em uma maior produção nacional porque boa parte desse consumo adicional é de produtos importados, beneficiados pelo câmbio mais apreciado. Por outro, a greve da Receita Federal em maio e junho deprimiu os resultados das exportações. Dados de julho revelam que grande parte da queda marginal de 5% das exportações físicas será revertida no terceiro trimestre. Finalmente, em junho a produção de petróleo da Petrobras foi interrompida para a manutenção de plataformas, que já voltaram a operar em julho. Assim, esperamos que em boa medida os resultados do terceiro trimestre amenizem a decepção dos resultados divulgados ontem. Entretanto as considerações acima não são suficientes para reverter o fato de que o crescimento do PIB brasileiro em 2006 está caminhando mais para 3% (ou menos) do que para os 4%, 4,5% projetados pelo governo. Por quê? A razão conjuntural é que a evolução recente da inflação (muito abaixo da meta de 4,5%) e do crescimento sugerem que o Banco Central exagerou na dose do aperto monetário. Apesar de estarmos com juros nominais abaixo de seu piso histórico, os juros reais continuam elevados. A expressiva melhora dos fundamentos da economia nos últimos anos, que nos torna um país muito menos arriscado, significa na prática que os mesmos níveis de juros do passado são, hoje, mais contracionistas. O lado bom dessa constatação é que o espaço para queda de juros permanece aberto e surpresas positivas, como a da última reunião do Copom, devem continuar acontecendo. Já a razão estrutural -e, portanto, mais grave- é que a conta das décadas de orgia fiscal começa a se apresentar. Por conta dos gastos públicos que crescem sistematicamente a taxas elevadas, a arrecadação de impostos já chega próximo a 40% do PIB (contra uma média de 24% dos demais países da América Latina), quadro que sufoca o setor privado e engessa o investimento público. Assim, o país se tornou um obeso paquiderme, incapaz de demostrar agilidade nem mesmo sob as mais favoráveis condições. Fica, portanto, cada vez mais explícita a necessidade de reformas e contenção de gastos para nos equipararmos ao dinamismo econômico da média dos demais países emergentes, que vêm crescendo acima de 6% ao ano.
CAIO MEGALE E LUIZ FERNANDO FIGUEIREDO são sócios da Mauá Investimentos. |