segunda-feira, setembro 25, 2006

PF apura nova reunião com petistas

PF apura nova reunião com petistas

Luiz Antônio Vedoin teria se encontrado com partidários do PT em Rio Preto, inclusive pessoa ligada a Mercadante

Fausto Macedo, ENVIADO ESPECIAL, CUIABÁ

A Polícia Federal investiga informação de que Luiz Antônio Vedoin, empresário que chefiava a máfia dos sanguessugas, reuniu-se com assessores de importantes dirigentes do PT num hotel de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, três dias antes de ser preso sob acusação de montar o dossiê contra candidatos tucanos.

O encontro teria ocorrido no dia 12 de setembro, quando Vedoin e seus interlocutores acertaram os últimos detalhes da trama para jogar o tucano no mar de lama dos sanguessugas. A PF suspeita que ao menos um assessor de Aloizio Mercadante, candidato do PT ao governo paulista, teria ido ao encontro.

Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha de Mercadante, é alvo do inquérito. Para a PF, ele participou do encontro com Vedoin para tratar da compra do dossiê - uma fita de vídeo, um DVD e seis fotografias de Serra durante entrega de ambulâncias em Cuiabá, em 2001. À época, Serra era ministro da Saúde. Lacerda foi procurado pelo Estado, mas não atendeu ao telefone.

A suspeita é que ele tenha atuado na negociação de compra do dossiê por R$ 1,75 milhão. O delegado Diógenes Curado, que preside o inquérito, considera fundamental seu depoimento.

Agora, a meta da PF é reconstituir todos os passos do grupo envolvido para tentar chegar a novos nomes. Os federais descobriram que no dia 5, quando depôs pela última vez à CPI dos Sanguessugas, Vedoin encontrou-se em Brasília com o empreiteiro Valdebran Padilha, filiado ao PT e arrecadador de campanhas no Mato Grosso.

No dia seguinte, os dois embarcaram de volta a Cuiabá. Vedoin estava em liberdade, que conquistara em troca da delação premiada. O benefício foi cortado quando a PF descobriu o caso do dossiê.

Segundo a polícia, no dia 12 Vedoin e Valdebran foram a Rio Preto e se reuniram com quadros do PT. No dia seguinte, o petista foi a São Paulo e Vedoin, a Cuiabá.

QUINTA SINFONIA

Curado chegou ontem cedo a Cuiabá, depois de passar quase 15 horas, na sexta, em Brasília, conduzindo os interrogatórios de Jorge Lorenzetti, Expedito Afonso Veloso e Oswaldo Bargas, trio petista sob suspeita. A PF não perguntou se o presidente Lula sabia da operação.

Os petistas disseram que o dossiê era mesmo de interesse do partido, mas se recusaram a apontar detalhes sobre a origem do dinheiro. Alegaram que, em troca do material, dariam suporte jurídico a Vedoin. 'Eles combinaram tudo direitinho, parecia a quinta sinfonia de Beethoven', disse Curado.

A polícia também decidiu abrir um novo inquérito, exclusivamente para apurar a participação do empresário Abel Pereira, amigo do ex-ministro da Saúde Barjas Negri, que sucedeu Serra no cargo (no governo Fernando Henrique Cardoso). Abel foi a Cuiabá para se reunir com Vedoin, que tinha em mãos lista de cerca de 500 prefeituras supostamente ligadas aos sanguessugas.

Ontem, a PF começou a analisar documentos, inclusive cópias de 15 cheques que Expedito entregou. Os cheques somam R$ 601 mil e, segundo o petista, seriam sobra de campanha de Serra em 2002. 'Ninguém está implicando o Serra aqui', declarou o delegado.