A PERGUNTA QUE circula, nesses dias em que nos deparamos com mais um típico escândalo oriundo do método lulo-petista de governar é: Lula sabia? Acho que sim, assim como creio que pouco importa, e me explico. Acredito que Lula sabia por uma série de motivos. Primeiro, porque Wagner Cinchetto admitiu ter participado do grupo de formação de dossiês contra adversários na campanha de Lula de 2002, dizendo explicitamente sobre o conhecimento do candidato: "não só tinha conhecimento como autorizou que o grupo fosse criado". Segundo, porque todos os envolvidos na operação sabiam que seu malogro teria conseqüências dramáticas para a campanha de Lula, e duvido que se atrevessem a entrar nesse risco sem que a maior vítima em potencial estivesse de acordo. Terceiro, pelas pessoas envolvidas. Os envolvidos na chefia da operação têm ligação direta com Lula: Berzoini foi seu ministro e era chefe da sua campanha, Lorenzetti era seu amigo e churrasqueiro, Freud Godoy era uma espécie de faz-tudo há anos. Difícil de imaginar que pessoas com esse nível de acesso tenha empreendido uma ação desse porte sem ao menos avisar o presidente-candidato. Quarto, porque se encaixa no método petista de achincalhar opositores. A campanha "Fora, FHC", o caso Eduardo Jorge, os cartazes associando Jorge Bornhausen a Hitler, a campanha contra Paulinho nas eleições de 2002 e agora esse dossiê: há um método. É possível desconhecer o trabalho de subalternos na primeira vez. Mas quando ocorre uma segunda, há que se imaginar que há a conivência das lideranças da organização. Tudo isso, porém, são conjecturas amparadas na lógica e nos fatos. Certamente, lulistas de carteirinha hão de usar outra lógica e outros fatos para chegar a conclusões distintas. Portanto, é uma discussão que importa pouco. O fundamental é: ele tinha de saber. Assim como no direito vale a máxima de que ignorantia juris non excusat -o desconhecimento da lei não é desculpa para inocentar o criminoso- em qualquer organização vale o princípio de que o desconhecimento do chefe não o desculpa dos erros dos subalternos. Lula é culpado pelo dossiê porque escolheu Berzoini para ser seu chefe de campanha. Ponto. E assim tem de ser, especialmente quando se trata da Presidência, porque senão todo governante diria a seus subordinados: "façam todas as loucuras que vocês acharem importantes para o meu mandato, mas não me contem". Se um presidente pudesse se eximir da responsabilidade dessa maneira, não só teríamos dossiês e mensalões, como talvez coisa muito mais séria. Se o presidente é inimputável pela ação de seus subordinados, talvez tenhamos amanhã o Exército invadindo a Argentina ou testando uma bomba atômica, a Fazenda atrelando o real ao dólar e a Polícia Federal abrindo as fronteiras. Enfim, ou os chefes têm responsabilidade sobre a ação de seus subordinados ou não são chefes. |