sexta-feira, setembro 01, 2006

Eliane Cantanhede - Chuchu com sal e pimenta



Folha de S. Paulo
1/9/2006

Esta eleição, com "chuchu", reeleição, franco favorito e chance concreta de fechar em primeiro turno, está, convenhamos, insossa de matar. Além de não servir um prato muito saudável para a democracia: o confronto real.
Ao botar uma pitada de sal e jogar alguns ingredientes mais apimentados no fogo brando, Alckmin faz pelo menos o favor de tornar a campanha mais saborosa. Ou mais proveitosa sob vários aspectos.
Os ingredientes que faltavam eram justamente os escândalos, que ocuparam boa parte do atual governo e da atual legislatura, mas haviam evaporado do cenário político como por encanto.
Mas não é só isso. O programa da oposição também vai abordar as verdades, meias verdades e puras mentiras sobre a economia. Neste caso, a realidade parecia bem favorável a Lula, mas começa a dar uma mãozinha a Alckmin. Ou ao debate.
Além de jogar no ar Dirceu, Palocci, Gushiken, Genoino, Delúbio, Waldomiro, Silvinho Pereira e todo o rastro de perdas do PT e do governo Lula, tucanos e pefelistas, ajudados pelo PPS, vão também questionar o paraíso da economia vendido por Lula e pelos lulistas.
O crescimento anunciado ontem do segundo trimestre é um prato feito para a oposição. São vexaminosos 0,5%, misturados aos 2,3% de 2005 e à revisão de expectativa para em torno de 3,5% neste ano.
O PT desdenha, alegando que são "dados abstratos" e que a população quer saber mesmo é do preço do cimento e do arroz. Mas crescimento puxa a discussão sobre emprego e deságua num dado concreto: as demissões da Volks, bem no berço do PT e do líder sindical Lula.
A crise na Volks está para Lula assim como o PCC está para Alckmin, ambos intercalando a crise ética e a economia em geral. Alckmin pode até não subir, mas a campanha fica bem mais suculenta.
Bom apetite!