quarta-feira, setembro 27, 2006

Clóvis Rossi - Nem os áulicos agüentam

Folha de S. Paulo
27/9/2006
Nem os intelectuais a serviço do PT estão agüentando o partido. Exemplo: Wanderley Guilherme dos Santos, o que inventou a mistificação do "golpismo" das elites, para "explicar" a crise do mensalão, e agora abandona sua teoria maluca.
Não há mais conspiração. Há, conforme artigo publicado ontem, "decisões irresponsáveis de militantes políticos truculentos, analfabetos em democracia".
Bom, já é um primeiro passo na volta do cientista político ao mundo real em vez de ficar com suas fantasias delirantes. Mas é só um passinho. Esqueceu-se, convenientemente, de que não são apenas "militantes" de segunda linha os envolvidos na formidável coleção de escândalos do PT.
Faltou, por exemplo, lembrar do caso do caseiro Francenildo Pereira, cujo sigilo foi violado, em ato de cristalino "analfabetismo democrático". Praticado por um "militante truculento"? Não, por um doce e suave Antonio Palocci, o nome mais forte do governo Lula. Aliás, foi o próprio presidente quem entregou Palocci dia desses.
Quando -e se- completar, algum dia, o seu retorno ao mundo real, Guilherme dos Santos verá que Lula entregou também Ricardo Berzoini, como responsável pela convocação para a campanha reeleitoral do que Lula chama de "aloprados", em sintonia com o cientista político, que prefere "truculentos e analfabetos em democracia".
Berzoini não é um militante qualquer. É presidente do PT e era coordenador da campanha do presidente à reeleição. De todo modo, as "descobertas" recentes desse acadêmico militante do lulismo mostram que o mau cheiro provocado pelas ações de petistas, militantes e/ou graduados passou de todos os limites. Pode-se, como muita gente ainda faz, tapar o nariz. Só não dá para fingir que a podridão não está correndo solta.