domingo, setembro 24, 2006

AUGUSTO NUNES

Sete Dias

24/09/2006
Augusto Nunes
augusto@jb.com.br


Freud, Lorenzetti, Bargas, Valdebran e Gedimar: cinco peças de um buquê que lembra a cara do dono da floricultura

A TURMA

Freud Godoy nunca leu um livro. Gibis? Talvez. Mas compensa a escassez de neurônios com bons músculos e muita disposição. Cuidou da segurança do candidato em todas as campanhas do amigo Lula. Faz compras para Marisa Letícia e atende aos caprichos da Mulher do Homem. Dá proteção aos filhos do casal. Organiza com presteza as peladas em que o chefe espanca a bola. Virou assessor da Presidência.
Jorge Lorenzetti é viciado em negócios suspeitos e maracutaias variadas. Mas azulou a conta bancária da filha de Lula há cinco anos, quando Lurian reincidiu em outra enrascada financeira. E ganhou de vez a admiração do pai comovido por mostrar-se um churrasqueiro de primeira. Elogiada por Fidel Castro, a costela assada de Lorenzetti garantiu-lhe o empregão num banco em Santa Catarina e uma vaga do comitê da campanha para a reeleição.

Oswaldo Bargas sofre acessos de laborfobia quando ameaçado por empregos regulares. Mas esteve ao lado de Lula no sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, na fundação do PT, na gestação da CUT e nas campanhas eleitorais. Sobretudo, é casado com Mônica Zerbinato, a secretária de Lula. Graças a esses trunfos, tornou-se figurão do Ministério do Trabalho e, depois, braço direito do ministro.

O engenheiro-elétrico Valdebran Padilha não conseguiria administrar um fusível. O empresário é mais eficaz. Costuma anabolizar o anêmico PT de Cuiabá com injeções de dinheiro – e arranjar dinheiro para cobrir os rombos abertos por fiascos nas urnas. Ganhou o controle da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em Mato Grosso, muitas licitações e bastante prestígio entre os companheiros socorridos.

O advogado Gedimar Passos procura viver longe dos tribunais – provavelmente pelo temor de sair da corte não para a rua e, sim, para uma cela. Mas foi sherloque da Polícia Federal por muito tempo, converteu-se ao lulismo e consolidou a imagem de especialista em questões de segurança. O comando do PT passou a designá-lo para missões secretas. Acabou no caso do dossiê. Como o restante da turma.

Uma turma e tanto, essa revelada pela safra de fim de inverno colhida no Planalto. É menos criativa que a anterior. É também menos cuidadosa: na primeira manobra mais audaciosa, tropeçou em armadilhas que se afiguram coisa de amador aos olhos da velha guarda. Mas nenhuma outra vertente da grande quadrilha federal tem integrantes tão parecidos entre si. E todos têm a cara do Chefão.

Cabôco Perguntadô

Primeira-dama não é cargo. É título honorífico. A atual dispensou-se de cuidar de programas sociais do governo. Portanto, não tem emprego regular. Estabelecidas as premissas, o Cabôco quer saber: a que se presta a sala de Marisa Letícia no Palácio do Planalto? Ele não acredita que se trate do posto avançado para incertas no primeiro-companheiro.


O doutor anda muito ocupado

O ministro Márcio Thomaz Bastos está sem tempo para examinar o espantoso episódio do grampo telefônico no Tribunal Superior Eleitoral. No momento, o doutor se concentra na tarefa de livrar da cadeia a turma do dossiê. Já providenciou até advogado para um dos bandidos. Do Primeiro Cliente, cuida pessoalmente.


Gente fina é isso aí

Seguidora do Manual de Etiqueta da Nova Era, a empresária Simone Godoy, mulher do Nosso Freud, usa a linguagem gestual para explicar aos jornalistas que prefere não comentar a última do maridão.


Catanduvas tem vagas para duplas

Os companheiros Luiz Gushiken e Duda Mendonça têm em comum mais que meia dúzia de casos de polícia. Há também o temperamento: pilhados na prática de bandalheiras, tratam de trocar o balbucio dos réus pelo berreiro das vítimas indignadas.
A última da dupla foi a suspeitíssima distribuição de cartilhas que celebram façanhas do governo. O Tribunal de Contas da União intimou os parceiros a devolverem R$ 11,7 milhões que sumiram pelo ralo. Pois Gushiken e Duda estão gritando que é armação eleitoral. Merecem vaga em Catanduvas.


Yolhesman Crisbelles

Concebido para premiar também frases cretinas, o troféu da semana vai para a escritora Rose Marie Muraro, pela frase com que formalizou a conversão à seita Nova Ética:
Ser moral dentro de um sistema imoral é legitimar a imoralidade.
Então, tá, dona Rose Marie. Capriche na porcentagem. E faça bom proveito.

Mais uma vez, há controvérsias

Em Belém do Pará, o candidato Lula ficou muito animado com o comício que juntou o PT do mensaleiro Paulo Rocha e o PMDB de Jader Barbalho. “Este palanque é uma aula de sociologia política”, gabou-se o rei do improviso. Promotores de justiça discordam. Acham que foi um caso de formação de quadrilha ou bando.