O Globo |
29/8/2006 |
Oinício da propaganda obrigatória tornou a situação mais evidente, mas bem antes já dava para desconfiar de que esta seria uma campanha eleitoral extremamente chata. Pode haver alguma emoção em uma ou outra disputa estadual, mas não em estados cruciais, como São Paulo e Minas, sem falar no Rio. No plano federal, as favas já estão contadas desde o lançamento das candidaturas. Na outra vez em que se permitiu a reeleição, a vitória do presidente Fernando Henrique era esperada, mas é preciso admitir que Lula foi, então, adversário bem mais perigoso do que Alckmin hoje. É sintomático que um candidato vindo do governo de um estado do peso de São Paulo tenha como primeiro grande problema da campanha a necessidade de se livrar do apelido humilhante - não importa se provavelmente imerecido - de picolé de chuchu. Com o detalhe, aleatório, mas curioso, de que os dicionários não registram definição pejorativa para a cucurbitácea. A certeza quanto ao resultado não é o fator único da pasmaceira eleitoral. Pesa também o desencanto do eleitor com a classe política. Quem recorda alguma eleição para o Legislativo tão marcada pela necessidade de tantos candidatos provarem que não são desonestos? Ou algum momento em que o próprio presidente teve sua presunção de inocência ancorada em juras de ignorância sobre o que andaram fazendo diversos companheiros históricos? O debate sobre a política econômica, que se supõe crucial para a decisão de voto, não ajuda a decisão do eleitor. Para o cidadão médio, por exemplo, é complicado entender o que aconteceu com a renda na população nos últimos quatro anos. Especialistas isentos dizem que cresceu, sim, mas de forma errada ou nos segmentos errados. O governo faz bandeira com a primeira parte, a oposição com a segunda - e o cidadão tende a desistir de entender. Também não é fácil compreender quando o governo paulista, enfrentando o que deve ser o problema de segurança pública mais grave de sua história, aceita ajuda do governo federal às segundas, quartas e sextas, e a repele às terças, quintas e sábados. Idem quando cidadão fluminense vê Lula fazer campanha entusiasmada no Rio para o candidato a governador da Igreja Universal, e deixar no sereno o candidato de seu próprio partido, que ele parece apoiar apenas em Nova Iguaçu, onde o prefeito é petista. E o PT fluminense acha tudo bem, tudo normal. A impressão que fica e cresce é de uma campanha que pode ser definida, com alguma generosidade, como surrealista. Certamente, provocando mais desinteresse do que entusiasmo. Resta contar os dias até o resultado inevitável. Pois fique sabendo: são 35. |