A estratégia ideal do governo é a formação de novo partido formado por contingentes de PT, PSDB, PMDB e nanicos
A CONTINUAR A FÁCIL disparada de Lula rumo à vitória muito cômoda já no primeiro turno, é o caso de começar-se a sondar os prenúncios do sentido que seu segundo mandato pode ter. Ou pretender. No caso, não se trata do aspecto administrativo, único, aliás, em que Lula deu aos eleitores a confiança de uma antecipação. Disse que a política econômica não mudará. Mas a experiência sugere que a palavra do Lula candidato é volátil, e bastou-lhe a conveniência eleitoreira para afrouxar muito o arrocho. No ar há sussurros mais importantes. Capazes, no mínimo, de explicar algumas condutas aparentemente sem nexo, e por certo sugestivos de razões para atenção, se não chegarem a mobilizar apreensões. Uma dessas condutas foi o repentino ressurgimento de uma Constituinte. A idéia não é nova, até com projeto na Câmara há tempos. Mas duas coisas, agora, não faziam sentido. Primeiro, a manobra urdida pelo ministro Tarso Genro, para constar que a proposta ressurgia por iniciativa de uma comissão de juristas representativos da OAB. Em seguida, o empenho imediato e intenso de Lula em angariar entusiasmos pela proposta. Desvio extemporâneo demais para ser compreensível, a meio da campanha eleitoral e por parte de quem, nela, jogava até o governo na formação de sua vantagem sobre os concorrentes. A Constituinte suscitou mais recusa do que aprovação. Tarso Genro engatou com presteza a reforma política, que figura, desde então, como assunto de citação mais presente nos pronunciamentos de Lula. E tão encaixado a martelo nessas falas quanto extemporâneo na disputa eleitoral, como a Constituinte. Mas a desordem partidária facilita a aceitação a priori da reforma política, sem esclarecimentos a respeito. E Tarso Genro deu o passo seguinte: na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, quinta-feira, ressuscitou o que chama de "concertação", em maltrato à língua portuguesa que a sua inspiradora "concertación" chilena não exigia, com tanto acordo, aliança, união, pacto, entendimento, e muito mais à nossa disposição. Repetia-se a manobra da Constituinte: a "concertação" ganhou ares de proposta do populoso conselho. Não consta, porém, que os empresários que de lá saíram proporcionando importante base à proposta, tomada como a difusa idéia de uma frente reformista e suprapartidária no Congresso, saibam o que os sussurros protegem sob as indefinidas reforma política e "concertação". A estratégia ideal do núcleo político do governo é a formação de novo, imenso e plural partido político. Formado por contingentes expressivos, e talvez majoritários, do PSDB, do PMDB, do PTB e a maioria dos nanicos. E com o dissolvido PT. Referências veladas à idéia já vêm desde lá de trás, feitas por Lula, e depois por Tarso Genro, a propósito de identificações naturais entre o PT e o PSDB, como plataformas de um entendimento possível. A previsão de vitória reeleitoral, valorizada por margem consagradora, traduziu-se como o momento oportuno para acelerar a estratégia. O que falhou com a manobra da Constituinte encontra até agora, sob nova fórmula, perspectivas mais fáceis. Se para o bem ou não, cada um com as suas hipóteses. |