Ricardo Kotscho, assessor de imprensa de Luiz Inácio Lula da Silva em todas as campanhas presidenciais e nos dois primeiros anos de governo, é a pessoa que mais conhece o presidente, fora Marisa Letícia, a mulher. No livro autobiográfico que acaba de lançar, Kotscho diz, sobre o amigo: "Lula era seu próprio herói, não tinha ídolos nem modelos". Em uma única frase, quase que a biografia completa do presidente. Explica como e por que Lula cria, usa e, agora, esconde o PT. Explica como e por que Lula passou os primeiros 20 e poucos anos de sua atividade política dizendo coisas que, depois, ao chegar ao poder, descartou como "bravatas". Explica por que Lula nasceu para a fama combatendo a política econômica de Delfim Netto, então o czar da economia na ditadura, e, uma vez na Presidência, tomou Delfim como novo conselheiro. Chegou, segundo o deputado, a aceitar a tese do "déficit nominal zero", uma dessas mágicas bestas que periodicamente são postas a circular no Brasil e que é a antítese de tudo o que Lula defendeu a vida toda, menos na Presidência. Quem tem apenas a si próprio como ídolo e modelo, além de tornar-se megalomaníaco, troca de projetos e de conselheiros como quem troca de camisa. Vale apenas a própria intuição sobre os benefícios políticos e eleitorais que essa ou aquela atitude podem render. Delfim finge agora que foi a "Carta ao Povo Brasileiro" que elegeu Lula. Mistificação. Pergunte nos pontos de ônibus da cidade se alguém leu ou ao menos soube dela. Mais: Miriam Leitão, colunista de "O Globo", lembrou, há pouco, em sua coluna, que, em entrevista a ela, na Globo News, o Lula candidato disse, depois da "Carta", as mesmas bravatas de antes. Quem não tem modelos diz qualquer coisa, conforme a hora. Ilude quem gosta de ilusão. |