terça-feira, agosto 01, 2006

Clóvis Rossi - Eleição ponta de estoque





Folha de S. Paulo
20/7/2006

O dado que mais chama a atenção -a minha atenção pelo menos- na mais recente pesquisa do Datafolha é a nítida caracterização do pleito de 2006 como "não tem tu, vai tu mesmo".
Comecemos com Lula: elegeu-se com dois terços dos votos, mas, imediatamente depois, já era virtual unanimidade nacional, um tanto pela sua rica história de vida, outro tanto porque a Rede Globo glamouriza em excesso todo presidente eleito, chame-se Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso ou Lula.
Agora, não consegue atingir o coração da metade dos eleitores. Mais significativo ainda: 36% dos que votarão em Lula o fazem, confessam, porque não acham nada melhor. Tudo somado, tem-se que o encanto com Lula baixou dos 2/3 de 2002 para 1/3 agora.
Pior ainda é o caso tanto de Geraldo Alckmin como de Heloísa Helena: metade dos eleitores de cada um deles, arredondando os números, só vota em um ou na outra por falta de alternativa.
Se se quiser uma interpretação menos comportada da eleição, daria até para dizer que, em vez de uma festa cívica, como antigamente a gente chamava a eleição, vai ser uma festa cínica.
Em princípio, falta de entusiasmo não é um grave problema. O Brasil, aliás, está cansado de ver brotar paixões pelos motivos errados ou por equívocos colossais (o caso Fernando Collor talvez seja o mais eloqüente, mas nem remotamente é o único).
De todo modo, fazer a coisa certa no governo depende também de um grau de adesão da sociedade que está longe de se manifestar, até agora, na presente disputa.
Na Suíça, tudo bem. A vida já está ganha. Aqui, tudo o que não precisamos é de apatia.
PS - Pela contribuição que dei à eliminação do Brasil na Copa, a Folha me concedeu folga até o fim do mês. Sorte sua.