sábado, julho 29, 2006

VINICIUS MOTA BC anuncia o dilúvio

FOLHA

SÃO PAULO - Até o estilo estatístico conspira a favor dos Estados Unidos. O Bureau of Economic Analysis -o IBGE deles- divulgou ontem que a economia americana cresceu 2,5% no segundo trimestre, em relação aos primeiros três meses de 2006. Aqui não temos a mesma sorte. Se apurassem resultado idêntico, os estatísticos brasileiros anunciariam: "A atividade econômica se expandiu 0,6%".
É que os americanos tomam essa última variação, a elevam à quarta potência e daí dizem que sua produção aumentou 2,5% "em ritmo anualizado". O que importa mesmo é que, sob qualquer parâmetro, a maior economia do planeta cresceu pouco e desacelerou bem: o ritmo de expansão caiu a menos da metade do que foi no primeiro trimestre.
O que em outras épocas daria vazão ao pessimismo suscitou a reação oposta. Coroou a melhor semana em três anos de valorização acionária em Wall Street, medida pelo abrangente S&P 500. Uma desaceleração econômica é justamente o que os diretores do Fed (banco central) necessitam para interromper a alta dos juros básicos nos EUA.
A euforia foi endossada pelo FMI. A instituição fala em sinais de "pouso suave" na economia americana, embora alerte para riscos presentes no mercado imobiliário de lá, setor que registrou forte retração no segundo trimestre. O Brasil também ficou extático. A Bovespa subiu e o dólar fechou a semana em R$ 2,18. O risco-país caminha para os 200 pontos, um nível baixíssimo.
Interessante é comparar esse cenário com a mensagem da ata do Copom, que lançou a hipótese de o Banco Central reduzir para quase nada o já modesto ritmo de corte da Selic. Enquanto os indicadores globais caminhavam para a bonança, os juros brasileiros eram ajustados para cima no mercado futuro.
Tudo mantido como está, o resultado é previsível. Chega ao Brasil um novo dilúvio de dólares à procura de ganho fácil; o BC faz dívida extra para o Estado pagar e o país desperdiça mais oportunidades.