Panorama Econômico |
O Globo |
20/7/2006 |
Quem compara o que o mercado financeiro previa no começo do ano e o que prevê agora nota que as melhoras na economia brasileira continuam. Os problemas estruturais permanecem, mas os analistas estão esperando menos inflação, mais crescimento, menos juros do que esperavam há seis meses. O saldo da balança comercial será menor, mas o Brasil deve exportar US$ 10 bilhões e importar US$ 15 bilhões a mais do que no ano passado. Toda semana, bancos e consultorias informam ao Banco Central as suas previsões. A avaliação positiva tem melhorado a cada semana. No começo do ano, o mercado achava que o IPCA ficaria em 4,52%, agora acha que ficará em 3,76%. A previsão do IGP-M caiu de 4,98% para 3,82%; o IPCA dos próximos 12 meses caiu de 4,6% para 4,3%. O PIB cresceria 3,4%, agora a previsão é de 3,6%. São só previsões e o mercado pode mudar seus cálculos a qualquer fato novo, mas as expectativas têm melhorado (veja o gráfico da queda da previsão do IPCA de 2006). A expectativa para a balança comercial é de um saldo de US$ 40 bilhões, menor que o do ano passado, mas este ano o volume de comércio deve subir de US$ 192 bilhões para US$ 218 bilhões. Aumentarão tanto a importação quanto a exportação. Aliás, se os dados previstos para 2006 forem comparados com os de 2003, verifica-se que o Brasil hoje exporta US$ 56 bilhões a mais do que exportou naquele ano, e importa US$ 40 bilhões a mais. Esse maior vigor do comércio exterior está por trás do fato comemorado ontem pelo ministro da Fazenda: o equilíbrio entre reservas e dívida externa da União. Tudo isso dá a tranqüilidade para que a queda da taxa de juros continue nas próximas reuniões do Copom, como caiu ontem. Não há razão para que não caia no futuro. Os problemas brasileiros não são os macroeconômicos de curto prazo. O que preocupa é que o país poupa pouco, investe pouco, tem alta carga tributária, crescente volume de gastos públicos. Por causa disso, é que o crescimento do país é menor do que o de outros países, inclusive os vizinhos. Uma idéia estranha circula no governo Lula. A de que ministros podem participar da campanha eleitoral fora do horário do expediente. O problema é que expediente de ministro só teria hora certa para terminar se este fosse um país com seus problemas resolvidos. Imagine o ministro da Educação. Com os problemas educacionais brasileiros, não deveria lhe sobrar tempo algum para campanha eleitoral. O mesmo se diga da Saúde. A Justiça, então, nem se fale. O ministro Guido Mantega e a ministra Dilma Rousseff, depois da última reunião ministerial, falaram em trabalhar na campanha fora do expediente. Só poderiam se negligenciassem suas atividades. Não que os ministros do governo Lula sejam bons de voto. Alguns são quase anônimos neste fim de governo, outros não têm o necessário apelo para cabalar votos. O próprio Guido Mantega admite que não tem jeito para a coisa, ou em francês, não tem physique du rôle . Pessoas como Dilma Rousseff e Guido Mantega só atrairão apoio pelo cargo que ocupam ou pelo poder liberatório que têm temporariamente. Se fazem campanha em viagem, estão usando recursos públicos inevitavelmente. São recursos públicos que pagam os gastos do transporte dos ministros e de seus assessores e da secretaria que dá apoio logístico ao deslocamento. Não é possível separar o tempo do ministro ou da ministra para evitar o uso da máquina. Por tudo isso, é inconveniente a idéia de que ministros se engajem na campanha. Alguns resolveram ser mais discretos e não sobem em palanque, mas aproveitam cada chance para proclamar os supostos feitos deste governo. Dá na mesma. Ministros e outros altos funcionários deveriam ficar longe da campanha. Pelo menos para reduzir o custo que já será jogado sobre a máquina pública. O ideal seria que as autoridades entendessem que a melhor propaganda é trabalhar direito nas atividades dos cargos que ocupam. |