domingo, julho 23, 2006

FERNANDO DE BARROS E SILVA A sedução do babaísmo

FOLHA
SÃO PAULO - Heloísa Helena caiu nas graças de uma parcela do que o governador Cláudio Lembo gosta de chamar de "elite branca". O Datafolha a mostrou roçando os 20% das intenções de voto entre os eleitores com nível superior das regiões Sul e Sudeste. No eleitorado feminino, a senadora do PSOL dobrou seus votos -atingindo 12% no país.
Não é difícil imaginar a jovem estudante de história da USP como o tipo ideal da conversão babaísta. A maioria pobre por ora não liga muito para o que diz a senadora, sobretudo no Nordeste, de onde ela vem.
Isso não a faz nem melhor nem pior que o "chuchu" e o "abobrinha". Mas ajuda a explicá-la. O que representa a candidata do PSOL?
Ela é uma cria política do governo Lula. Ele é a mãe que gestou a filha rebelde, mas é também o padrasto que a expulsou de casa sem piedade.
Reúnem-se no babaísmo a restrição tanto política quanto rancorosa ao governo Lula e a repulsa moral à conduta do seu partido. Afinal, desmentindo o que disse Delúbio, provou-se que o PT se rende e se vende.
Heloísa Helena, porém, não é Lula em 1980. Por mais talentoso que seja César Benjamin, o vice-ideólogo do PSOL, da revolta babaísta não resultará nenhuma alternativa de poder -faltam-lhe base social e chão histórico, para falar em jargão.
Heloísa Helena é uma radical livre, uma versão espevitada de Eduardo Suplicy. Parece, como o senador petista, uma pregadora voluntarista a serviço de si mesma.
Sua presença no cenário eleitoral pode ter o mérito de alargar o campo das discussões. Mas corre o risco de resultar só num incremento do besteirol socialista, agravado por posições regressivas a respeito de questões como a descriminalização do aborto. As tiradas verbais de Heloísa Helena são mais divertidas do que seu fundamentalismo.
O babaísmo dificilmente sobreviverá às eleições. Mas de sua breve e ruidosa existência talvez dependa a realização do sonho do senador Bornhausen. Talvez esteja aí o programa real de Heloísa Helena.