Não é correto dizer que um acordo na OMC (Organização Mundial do Comércio) morreu, muito menos atribuir a culpa pelo assassinato ao Brasil. Como sempre, o duelo é principalmente entre os "grandes", os EUA e a União Européia, mas o Brasil obteve uma vitória: tornou-se peça importante, ao liderar o G20, grupo dos países agrícolas em desenvolvimento. Antes, era mais um; hoje, é voz levada a sério. Justamente por isso a secretária americana de Comércio, Susan Schwab, vem ao Rio para se reunir com o chanceler Celso Amorim no sábado: pelo destaque que o Brasil assumiu nas negociações comerciais, apesar de ser periférico nas questões políticas internacionais. Só o fato de Schwab pegar um avião e descer no Rio já significa três coisas: o Brasil tem peso, os EUA querem reabrir uma porta de entendimentos e, logo, Doha não morreu. Caso contrário, a secretária ficaria quieta em Washington. O grande "X do problema" é que os dois "grandes" insistem em ganhar sempre e manter altos subsídios internos à agricultura, que penalizam países produtores (o Brasil é o melhor exemplo) e assim são decisivos para as gritantes desigualdades regionais. Agora, a coisa empaca nos americanos, que precisam, ou precisariam, ceder muito mais. Quanto ao anúncio de que a "morte" das negociações na OMC corresponde ao renascimento das conversas do Mercosul com a UE, vamos ser claros: tem toda a cara de ameaça, ou pressão. Assim: se os americanos não cederem na OMC, vamos cair no colo da UE -e com Venezuela e tudo. Washington é suscetível a esse tipo de ameaça. Amorim deu o tom correto: o impasse é real e grave, mas Doha não morreu e as conversas continuam. Para alívio do aflito setor agrícola brasileiro, que será, ou seria, um dos maiores beneficiários. |