Chega ao mercado o primeiro genérico
à base de sibutramina, substância que
sacia o apetite sem causar dependência
Mesmo entre grandes amigas, quando uma vê a outra rejeitar uma fatia de pizza ou ignorar um sorvete de chocolate, é difícil evitar o comentário algo ferino: "Ah, voltou para o Plenty...". Ao lado do Reductil – ambos foram lançados no Brasil em 1998 –, o saciador de apetite (o termo mais correto seria enganador, pois ele simula a sensação de saciedade com base na sibutramina) virou um clássico dos regimes. Dieta sem Plenty, dizem os aficionados do gênero, exige autocontrole duplamente férreo. Com todo esse potencial, porém, Plenty e Reductil estão em quinto e sexto lugares, respectivamente, entre os remédios para emagrecer mais vendidos, sobretudo por causa dos cerca de 200 reais cravados na etiqueta de cada caixa com trinta comprimidos. Essa situação deve começar a mudar em julho, quando o laboratório Medley, que comercializa o Plenty, planeja lançar no mercado, seis meses antes da expiração da patente, o primeiro genérico da sibutramina. O preço será 35% menor (o mínimo que a lei exige) que o do produto "de marca", ou seja, mais ou menos 130 reais a caixa, fora os descontos habituais. Ainda salgado, mas um pouco mais promissor para a parcela da humanidade obrigada a resistir aos apelos da gula.
A antecipação do genérico do Plenty é resultado de um acordo do laboratório com o Abbott, detentor da patente, que fabrica o Reductil e não tem interesse em produzir um genérico próprio. "Com a diminuição do custo, nossa expectativa é que as vendas dupliquem ou tripliquem", diz Jairo Yamamoto, presidente do Medley, que durante os próximos seis meses terá o único genérico desse tipo no mercado – e justamente na época em que todo mundo quer entrar em forma para o fim do ano. A sibutramina age no sistema nervoso central, aumentando a sensação de saciedade e diminuindo o apetite. "É especialmente indicada para quem gosta de beliscar o dia todo e fazer lanchinhos à noite", diz a endocrinologista Cláudia Cozer, diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso). Junto com o Xenical, que atua no intestino eliminando gorduras – e portanto só tem efeitos visíveis para quem as consome em grande quantidade –, o Plenty e o Reductil são as alternativas existentes para os inibidores de apetite à base de feniletilamina, a mesma substância da qual derivam as anfetaminas. Conhecidos pelos riscos de dependência física e psíquica, são mesmo assim os remédios para emagrecer mais consumidos no país até hoje. Não é difícil identificar o motivo: uma caixa custa em média 20 reais. A chegada de um genérico da sibutramina 35% mais barato não deve mudar muito essa situação, mas o fim da patente em dezembro abre espaço para concorrentes e, possivelmente, para preços mais baixos.Rubberball