quarta-feira, junho 28, 2006

A Parte e O Todo: tentando negar-se, PSDB cai de boca na agenda do PT Reinaldo Azevedo


BLOG Reinaldo Azevedo

Os jornais desta quarta amanheceram coalhados de manifestações de tucanos que estariam descontentes com a polarização que se teria criado entre Lula e FHC — olhando para o passado — e não entre Lula e Alckmin, que seria voltada para o futuro. E tudo isso a pretexto de o PSDB não se deixar pautar pela agenda do PT! E isso que se vê é então o quê?

Não sei o que se passa lá nas hostes tucanas e menos ainda com quais critérios essa gente analisa a política. Do que adianta negar FHC três vezes antes de o galo cantar? Por acaso alguém está cumprindo algum secreto roteiro divinal? Por que os tucanos teriam de se descolar da sua herança? Não seria muito melhor colar Lula à dele? Ora, ao proceder assim, fazem justamente aquilo que dizem tentar evitar: deixar-se pautar pelo PT. Isso é tristemente óbvio. E ainda parece que corre da briga, o que o povo não perdoa.

Essa bateção de cabeça evidencia, por enquanto, duas coisas: não se tem ainda o objeto da campanha — afinal, Alckmin por quê? —, e a coordenação ou inexiste ou funciona muito mal. Que algo não vai bem entre tucanos e pefelistas, disso não se duvide. E, mais uma vez, no centro da discórdia, está Lula: pegar leve, anunciando amanhãs sorridentes, ou partir para a desconstrução? Todos sabem o que eu acho.

Impressiona que seja Cristovam Buarque, candidato do PDT à Presidência e homem notadamente de esquerda, ex-ministro de Lula, aquele a falar com mais dureza contra o presidente e o PT — Heloisa Helena e sua logorréia estão fora do meu campo de tolerância: minha lista de pilantras certamente não coincide com a dela. Vejam no clipping abaixo: Cristovam aponta com todas as letras o risco da degenerescência da democracia no país. Essa fala deveria ser de Alckmin.

Certo, dirão alguns: Cristovam só tem 1% dos votos e pode falar o que quiser. Ok: ocorre que não se ganha eleição nem com 1% nem com 18%. Os tucanos precisam, como é mesmo?, fazer campanha "sem medo de ser feliz". Alguns estrategistas vêm com uma conversa mole de que não se pode satanizar o PT porque isso só faria o partido crescer. É mesmo? E por que o PT sataniza os tucanos, e, mesmo assim, Alckmin não arranca nas pesquisas? Chega uma hora em que prudência cheira a covardia; em que muito ouvir deixa entrever a suspeita de que não se tem nada a dizer.

Para arrematar: a cúpula da campanha faz um esforço tolo para se afastar de FHC, e o procedimento abre espaço para que certo jornalismo, em tom que parece investigativo, aponte que ex-auxiliares do ex-presidente estão elaborando o programa de Alckmin, como se houvesse nisso algo de estanho, de singular, de exótico, de revelador. Queriam o quê? Que estivessem dando sugestões ao PSOL? A abordagem, evidentemente, é ridícula, mas consoante com o ridículo maior do que, tentando ser uma estratégia, revela-se apenas medo de Lula.

O PT tem mais folha corrida do que história. Mas seus adversários só falam em ser propositivos. Ta bom: mas que, então, ao menos, tenham propostas.

Cristovam diz temer que, se reeleito, presidente se renda ao autoritarismo

Sueli Cotta  O GLOBO

BELO HORIZONTE. O candidato do PDT à Presidência, Cristovam Buarque, disse ontem temer que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vença a eleição no primeiro turno e com um partido enfraquecido, acabe virando um líder autoritário. A probabilidade de isso vir a acontecer é grande, disse Cristovam, acrescentando que nesse caso Lula passaria por cima do Congresso, rendendo-se à "tentação autoritária".

— É lógico que a probabilidade hoje é muito maior que o presidente Lula seja reeleito, e esse é o meu medo. Porque se ele for reeleito no primeiro turno, com uma votação muito expressiva, e ao mesmo tempo nós tivermos um Congresso em que ele será minoritário, ao que tudo indica, eu temo pelas instituições democráticas — disse o candidato.

Cristovam afirmou que há risco de Lula querer ignorar o Congresso e começar a convocar plebiscitos, querer "falar diretamente ao povo".

— Principalmente quando temos um Congresso desmoralizado, o que facilitaria ainda mais o papel dele num gesto autoritário — completou Cristovam, que é senador do PDT pelo Distrito Federal.

O candidato disse que o neoliberalismo inventou muita coisa, inclusive formas diferentes de fazer regimes autoritários. Mas ele afirmou que há uma diferença entre o presidente Lula e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que anunciou tudo o que faria depois da eleição. O presidente Lula não está avisando que vai fazer isso, lembrou Cristovam, mas afirmou:

— Não será nem por maldade dele (no caso o presidente Lula), mas por uma tentação natural de um presidente, de um líder começar a agir tirando do caminho tudo aquilo que atrapalha, que no caso dele poderia ser o Congresso.Você até pode começar dentro da lei, mas termina rasgando a lei — afirmou.

Cristovam Buarque participou em Belo Horizonte da convenção estadual do PDT. O partido em Minas Gerais vai apoiar a reeleição do governador Aécio Neves (PSDB).

Jefferson Peres dará resposta ao convite hoje

O senador Jefferson Peres (PDT-AM) foi convidado a participar da chapa de Cristovam como vice. Ele dará a resposta hoje, depois de participar, no Rio, de reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), a convite do ministro Tarso Genro.

— Recebi o convite e não descarto essa possibilidade. Estou avaliando e respondo amanhã (hoje) — disse Peres.
COLABOROU Adriana Vasconcelos