segunda-feira, junho 26, 2006

Folha de S.Paulo - FHC reage a Lula e diz que PT só ganha em corrupção - 26/06/2006

FHC reage a Lula e diz que PT só ganha em corrupção

Ex-presidente aceita desafio da comparação e chama petista de
"incompetente'

Lançamento oficial de Serra ao governo vira desagravo ao ex-
presidente, que acusa gestão petista de abusar da publicidade e da
fisiologia

CATIA SEABRA
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

O PSDB transformou ontem a convenção paulista do partido em um ato de
desagravo a Fernando Henrique Cardoso. Ao comparar seu governo com o
do presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva, o tucano afirmou que
seu sucessor no Planalto ganha em "corrupção" e em "publicidade".
Anteontem, quando se lançou candidato à reeleição, Lula atacou a
gestão tucana (1995-2002), estimulou o PT a compará-lo com o
antecessor e disse que, em três anos e meio, fez mais do que FHC fez
em oito.
FHC respondeu: "Eu quero a comparação do meu governo com o governo
atual. Eu quero, e vou dizer por quê. Teve coisas que eles fizeram
mais do que nós: muita corrupção, os escândalos, aí ganharam. Também
gastaram muito. É muita publicidade, é muita propaganda, é muita
palavra para encobrir o nada. Aí, ganharam", afirmou, em discurso ontem.
A convenção, realizada à tarde na Assembléia Legislativa de São
Paulo, oficializou José Serra candidato ao governo do Estado e contou
com a presença de Geraldo Alckmin, o presidenciável tucano.
O ex-presidente retornou de uma viagem à Itália ainda pela manhã e
foi informado do conteúdo do discurso de Lula, feito na convenção
nacional petista em Brasília anteontem.
Em reunião no diretório estadual do PSDB, antes de chegar à
Assembléia, FHC conclamou o partido a reagir. Ao final da festa,
resumiu seu sentimento: "Chega, alguém tem que dizer a verdade".
O ex-presidente tucano centrou a crítica no aspecto ético e no
escândalo do mensalão, denunciado pela Procuradoria Geral da República.
"Agora, ainda ontem [anteontem], o presidente outra vez veio dizer
"vamos esperar a palavra final da Justiça, enquanto ela não vem,
somos todos iguais". Eu não. Eu não sou igual a essa gente, não. Nós
não somos iguais", afirmou FHC.

Energia e agricultura
Em seguida, o ex-presidente passou a fazer comparações pontuais,
começando pela área de energia. "Vamos falar de uma área que eles
gostam de falar. Qual foi a usina feita por eles que não tivesse sido
começada por nós?", perguntou.
Sobre a agricultura, disse que Lula se aproveitou da situação deixada
por seu governo, mas deu um passo atrás nas questões sanitária e
cambial. "Deixaram o câmbio valorizar demais. Não tiveram interesse
em proteger aquilo que foi a âncora verde do Real, que é a produção
agrícola. Agora, se gabam que estão exportando. Sim, é bom que
exportem. O Brasil precisa exportar. Por que estão exportando? Porque
nós acertamos as bases para a produção."
O ex-presidente ressaltou a paternidade de seu governo em programas
sociais, como o Bolsa Escola e o Vale-Gás, unificados no Bolsa-
Família, carro-chefe de Lula na área social. "Eles juntaram tudo isso
e aumentaram", disse.
Na educação, FHC citou o Fundef (Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério). "Quem inventou isso? Foi o PT? Não, o PT votou contra."

Economia
Mas a crítica pontual mais aguda ficou para a economia: "É uma
vergonha que em um mundo nas condições de hoje, bem diferentes das do
meu tempo, o Brasil não tenha aproveitado a onda para crescer mais.
Falavam e ameaçavam. Mesma coisa: 2,6% [média de crescimento do PIB
no primeiro mandato de FHC]. Eu, com quatro crises financeiras, e
eles com um "boom" econômico no mundo todo. Incompetentes."
Primeiro a discursar após FHC, Alckmin fez a defesa dos tucanos,
chamados de "vozes do atraso" por Lula. "O Fundeb [fundo para o
ensino básico], ficou só na propaganda, como não existe a
transposição do São Francisco, como não existe a Transnordestina,
como não existe o Fome Zero, como não existe o Meu Primeiro Emprego,
como não existe o Banco Popular. O que existe é a mentira reiterada",
disse sobre Lula.
Serra também não deixou de defender o legado de FHC, de quem foi
ministro: "Tucano não gosta de lama, não tem nenhuma identidade com
pântano, tucano voa", disse.