Tarso Genro, articulador político de Lula, caminha rapidamente para
superar Márcio Thomaz Bastos (ministro da Justiça) na arte de muito
falar e nada dizer. Encarna de maneira quase nunca vista a vacuidade
do discurso político da administração Lula.
"A reforma do Estado está na agenda do governo?", perguntou,
objetivamente, Malu Delgado ontem na Folha. Responde Tarso: "É um
debate que várias forças políticas estão propondo sobre o futuro, que
vai ser ou não contemplado no debate eleitoral. Não há nenhuma
proposta do governo do presidente Lula formalizada sobre isso, mas
há, sim, uma preocupação".
Como assim, "vai ser ou não contemplado"? Tudo vai ser ou não
contemplado, por óbvio. Mas qual é a posição do governo? É um enigma
que Tarso não se presta a decifrar para o distinto eleitor.
Mais adiante, outra pérola do nada discursivo sobre a reforma da
Previdência: "É um tema que se impõe (...) Cada um vai enfrentar com
uma visão de mundo".
As respostas genéricas de Tarso poderiam ser usadas para reagir a
qualquer pergunta. O PT vai se aliar a mensaleiros e a seus partidos
nos Estados? "É um debate que várias forças políticas estão propondo
sobre o futuro". Lula é contra a ocupação do Iraque por tropas dos
EUA? "É um tema que se impõe (...) Cada um vai enfrentar com uma
visão de mundo".
Com seu sotaque gaúcho e sua articulação beletrista, Tarso sintetiza
o sonho de todos os petistas: ser visto como progressista,
comprometer-se com nada e deixar as ações do futuro em aberto. Assim
será o próximo governo Lula.
Pistas sobre como serão mais quatro anos de PT? Tarso diria que só
"através de condutas objetivas". O problema é: objetividade é artigo
de luxo e raro no mundo lulista.