sexta-feira, junho 02, 2006

FH diz que Brasil é indiferente a corrupção e pede 'choque moral'


Reuters

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu nesta
quinta-feira um choque de moral na sociedade brasileira, após as
denúncias de corrupção envolvendo parlamentares, dirigentes de
partidos da base aliada e membros do governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.

- A inteligência chegou a um ponto em que estamos entre a indiferença
e a indignação. Quem tem que vencer é a indignação. Mas está vencendo
a indiferença. Não dá para continuar assim. A sociedade está
precisando de um choque moral. Não gosto de dizer isso, dá a
impressão de uma coisa muito udenista, mas precisa - disse FH em uma
palestra na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Depois de ser escolhido para disputar a eleição presidencial em
outubro, Alckmin clamou por um choque e um banho de ética na política
brasileira para afastar Lula e o PT do poder por meio das urnas.

FH, que tem se exposto menos à opinião pública desde o anúncio da
candidatura de Alckmin, prometeu engajamento na campanha do ex-
governador de São Paulo e evitou críticas ao sucessor no Palácio do
Planalto.

- Vou me engajar na campanha logo. Não misturo a função de professor
e de líder político. Não seria correto fazer críticas aqui - disse
ele em breve entrevista coletiva.

O ex-presidente não acredita que a economia brasileira poderá crescer
mais de 5% neste ano, ao contrário do que sugeriram membros do
governo nos últimos dias.

- Não há taxa de investimento que sustente isso - disse.

Para ele, a decisão do Copom de reduzir os juros em meio ponto
percentual na quarta-feira foi equilibrada.

- Há sinais no mundo um tanto preocupantes. E aqui o gasto público
cresceu muito. Acho que usaram uma medida de equilíbrio diante das
circunstâncias, mas espero que baixem mais - disse.

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, rebateu o ex-
presidente FH ao afirmar que não se trata de choque, já que a ética
deve ser perseguida constantemente.

- Isto é normal não somente agora, mas em todo o processo político
brasileiro. Agora, esta visão de choque de ética não tem nenhuma
fundamentação. A ética se constrói processualmente no interior do
estado e da sociedade civil. Se tem alguém que se corrompe dentro do
Estado, esta corrupção é induzida por um corruptor que vem de fora e,
portanto, isso não é questão apenas do Estado brasileiro, é uma
questão do Estado e da sociedade - disse Tarso a jornalistas em São
Paulo, onde realizou palestra para empresários.