quarta-feira, junho 28, 2006

Clóvis Rossi - "Overdose" e ridículo

Folha de S. Paulo
28/6/2006

Leio, na coluna de Nelson de Sá, cada vez mais imperdível, o espanto
e as ironias dos jornalistas estrangeiros com o colossal time de
brasileiros que cobre a Copa do Mundo. Não há muito a fazer a não ser
corar e concordar. É, de fato, um exagero na quantidade. Na
qualidade, não tenho como julgar, porque minha pequeníssima lavoura
nesse latifúndio são outros jogos e outras seleções. Só cruzo com os
jornalistas brasileiros durante as partidas do Brasil, e não dá tempo
de ler/ ver/ouvir a produção deles (exceto, claro, a do pessoal da
Folha, que me agrada). Mas há um fator que os estrangeiros parecem
não levar em conta e do qual já tratei: o futebol é a única atividade
humana na qual o brasileiro é "world class". É fato estatisticamente
comprovável. Até pelo interesse dos jornalistas não-brasileiros,
muito acima do que demonstram por outras seleções que não a da
própria terra. Exagerando um bocado, só para dar razão aos
coleguinhas estrangeiros, é um pouco como viagens de autoridades
norte-americanas: pode ser ao mais remoto e desimportante país do
globo, mas sempre vai uma massa de jornalistas, porque os interesses
dos Estados Unidos estão em toda parte. São, na política, na
economia, na força militar, científica etc. etc. etc. o que o Brasil
é no futebol. Não será difícil para um Nelson de Sá "gringo", se
houvesse um, constatar abobrinhas escritas/ditas durante tais
coberturas. É quase inevitável que "overdose", como diz o ombudsman
da Folha, e namoro com o ridículo andem juntas. Ah, tem um segundo
fator a explicar o exagero (na quantidade): Copa do Mundo é o último
território livre do rádio, nelas presente como em nenhum outro evento
global. Não me perguntem por quê.