terça-feira, junho 27, 2006

Carlos Heitor Cony - Ovo frito

Folha de S. Paulo
27/6/2006

A maioria não gostou do uniforme do Brasil contra o Japão -a camisa
amarela e o calção branco. Uma combinação estranha, admito. A menos
que o Vaticano (cujas cores oficiais são as mesmas) decida entrar na
Fifa, o visual brasileiro do último jogo me agradou bastante. Chegou
a dar movimentação maior à seleção, que, na realidade, muito se
movimentou em campo.
Futebol se joga nas quatro linhas, todos sabem disso. Mas há
infinitas linhas que podem decidir uma partida, e a superstição é uma
delas. Houve tempo em que a camisa oficial era azul, cor de Nossa
Senhora de Aparecida, e Zizinho detestava quando entrava em campo com
a camisa reserva, que, se não me engano, era branca ou cinza.
O ovo frito -mistura de clara e de gema de ovo- não agradou à
torcida, mas o Brasil fez a sua melhor atuação e, queira o Onipotente
-que tudo pode, como diz o nome- que repita a mesma agilidade, a
mesma garra nos outros jogos.
Tenho vasta experiência em matéria de camisas do meu time.
Durante anos, desde o seu início como clube de futebol, o Fluminense
só usava duas camisas: a tricolor, que era a oficial, e a branca, que
era a opção quando a camisa do adversário poderia confundir o juiz e
a torcida.
Eu sabia que a camisa oficial dava azar. Raramente o time vencia
quando a usava, no máximo empatava. Já a camisa branca, com o escudo
do clube no peito, fazia maravilhas -os adversários perdiam pênaltis,
chutavam na trave, davam bobeira na defesa, e o Fluminense sempre
vencia.
Num jogo contra o Botafogo, vi o meu time entrar em campo com a
camisa tricolor. Pensei bem, consultei meus santos protetores e
decidi ir embora do estádio.
Ouvi o resultado pelo rádio. Perdemos de seis a zero.