domingo, maio 28, 2006

Oposição sem rumo

FOLHA EDITORIAL

Chama a atenção na candidatura de Geraldo Alckmin, até agora, a sua falta de mensagem substantiva de mudança

DESAVENÇAS , farpas, amuos e bicadas vão cercando a candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência de todas as características de um espetáculo teatral mal-ensaiado, precariamente concebido, cada vez mais hesitante entre o ridículo da forma e a pobreza do conteúdo.
Às voltas com índices escassos de popularidade, sobretudo incapazes de ultrapassar o nível diminuto das vaidades ofendidas e das intrigas de bastidor, pefelistas e tucanos expõem um estridente jogo de acusações mútuas, interrompido apenas por silêncios carregados de oportunismo.
No PSDB, é notório que a candidatura Alckmin suscitou ressentimentos que seu desempenho nas pesquisas só fez intensificar. No campo pefelista, o estreitamento das perspectivas de vitória impõe, se isso é possível, um estado de nervosismo ainda mais difícil de controlar.
Mais do que esse constrangedor alarido de suscetibilidades à flor da pele, o que chama a atenção na candidatura Alckmin até agora é sua falta de mensagens substantivas de mudança.
A bandeira da "ética na política", que o PT deixou de ter condições de empunhar, caiu nas mãos do PSDB e do PFL para ser agitada freneticamente nas CPIs; mas os antecedentes fisiológicos de seus novos depositários estavam longe de torná-los convincentes nesse papel. Era indisfarçável, com efeito, o açodamento eleitoreiro daquela espécie de udenismo requentado, sobre o qual mesmo algumas ramificações do valerioduto vinham respingar.
Do ponto de vista da política econômica, o grupo tucano que defende alterações na ortodoxia ainda não se faz ouvir no discurso do candidato. O ex-governador parece estar sob pressão de personalidades ainda influentes cujo pensamento vem dominando a macroeconomia há 12 anos.
No outro extremo da escala social, o Bolsa-Família ocupa agora -com mais eficiência, diga-se- o terreno antes propício ao clientelismo pefelista. À população dos grandes centros urbanos, onde o problema da segurança pública assume proporções inauditas, é verdade que nenhuma força política tem propostas a apresentar -mas o PSDB menos ainda que seus rivais.
A fragilidade que a candidatura Alckmin tem revelado até aqui se vê agravada por um fator mais profundo, de ordem institucional. Enquanto o PFL sempre sobreviveu como partido clientelista, à sombra do poder, o PSDB se estruturou mais como uma agremiação de "notáveis" -aos quais o êxito do Real garantiu um caminho luxuosamente acarpetado para o poder- do que como um partido enraizado nas organizações da sociedade civil. Se o PT hoje se mostra escancaradamente distante de suas origens jacobinas, para tornar-se simplesmente uma máquina a serviço da reeleição, o PSDB e o PFL giram no vazio de seus arrufos, arroubos, vaidades e pretensões.
Uma democracia que se quer moderna prepara-se, assim, para uma campanha que não parece ter nada a oferecer, até o momento, além da mistificação personalista de um suposto "pai dos pobres" e do que o marketing político puder acrescentar de invencionice à falta de propostas reais de transformação.