Folha de S. Paulo |
26/5/2006 |
Está na hora de trazer propostas inovadoras, antes que o partido se transforme em um PFL requentado O PROBLEMA do PSDB não são as eleições de 2006. É o que será do partido depois delas. Aparentemente, os tucanos caíram na armadilha que ajudaram a montar, de ataques ao governo Lula. Tomou-se a nuvem por Juno. Houve uma leitura equivocada, de confundir o antilulismo de parte da opinião pública com um neoconservadorismo radical, grosseiro, sem credibilidade que grassou em parte da opinião pública midiática. Ora, o eleitorado tucano nunca foi conservador, sempre manteve um diálogo amistoso com entidades de direitos humanos, condenava acerbamente o modelo de segurança pública de Paulo Maluf, adotava um discurso não-dogmático em relação à economia, defendia a profissionalização do setor público, a inclusão social sem paternalismo. Principalmente exercitava um discurso não-radical, respeitoso, em torno de idéias. Ou seja, ocupava inconteste o campo centro-esquerda progressivo e não-dogmático, modernizante e fora dos parâmetros de agressividade da política tradicional. O problema da candidatura Geraldo Alckmin não foi apenas o da falta de idéias e de peso específico do candidato, mas como conseqüência de uma pefelização perigosa do PSDB -muito bem apontada pela colunista do "Valor" Maria Inês Nassif na edição de ontem. O PSDB está gradativamente abandonando sua base histórica e disputando o eleitorado do PFL -se situam aí, segundo a analista, os conflitos entre ambos os partidos. O PFL cumpre adequadamente seu papel de representar o eleitorado mais conservador. No entanto, quem fala hoje pelo PSDB? Em lugar da visão de Brasil de José Serra, a truculência de Tasso Jereissati, de Arthur Virgílio; em lugar das formulações do Instituto Sérgio Motta, a política de segurança de Saulo de Castro Abreu/Geraldo Alckmin, com toda sua dose de ineficiência. A própria falta de atuação dos caciques do partido nos conflitos do PCC mostra essa perda de rumo. Está certo que períodos eleitorais não são dos mais adequados para demonstrações de autocrítica. Mas, ao menos, devia-se sinalizar a seus simpatizantes que o partido mantém uma visão mais sofisticada e menos troglodita de segurança. Com esses impasses, ocorre um processo curioso. Os quadros radicais saíram do PT e fundaram suas próprias agremiações. As denúncias afastaram da linha de frente as lideranças petistas mais marcadas pelas denúncias. Esse afastamento abre espaço para o crescimento de novas lideranças, não maculadas pelas denúncias do mensalão, como o governador do Acre, Jorge Viana, o prefeito de Recife, João Paulo, o de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, todos com perfil moderado, de centro-esquerda. E o PSDB que tem as idéias e a liderança de José Serra, os estudos de Nakano e Bresser, o Instituto Sérgio Motta, os irmãos Mendonça de Barros, a visão de inovação de um Pacheco, de saúde de um Barjas, fala po meio de um Tasso e sua truculência explícita ou de um FHC e sua tropa de choque refinada. Está na hora de reavivar idéias, de trazer propostas inovadoras, antes que o partido se transforme em um PFL requentado. |