editorial |
O Estado de S. Paulo |
31/5/2006 |
Arrependido talvez por ter apresentado um prognóstico bastante ruim para as exportações e para a evolução do superávit comercial, na segunda feira, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, quis consertar, assinalando que os investimentos brasileiros no exterior - de US$ 71,6 bilhões e que cresceram 44% de dezembro de 2001 a dezembro de 2005 - representam um importante colchão de segurança, já que propiciam o ingresso de lucros e dividendos no País e são ativos negociáveis. Essa opinião merece uma análise mais cuidadosa. Convém observar que são investimentos realizados não apenas por empresas brasileiras que operam no exterior, mas também por particulares que compram ativos lá fora - por exemplo, apartamentos. No primeiro caso, pode haver retorno, em termos de remessas de lucros e dividendos para o Brasil, em decorrência das atividades dessas empresas; no segundo caso, pode haver saída de divisas para cobrir os custos das aplicações. Quando o presidente do BC se refere à importância dos lucros e dividendos remetidos para o Brasil, por multinacionais brasileiras situadas no exterior, caberia compará-los com as remessas feitas por multinacionais estrangeiras que operam aqui. Em abril deste ano as receitas originadas das multinacionais brasileiras somaram apenas US$ 19 milhões, enquanto as empresas estrangeiras remeteram cerca de US$ 1,2 bilhão, o que afetou muito negativamente o balanço de pagamentos. Não é uma condenação aos investimentos estrangeiros no Brasil, mas um lembrete de que, com a valorização do real ante o dólar, houve um forte incentivo para que antecipassem suas remessas. Portanto não são as empresas brasileiras no exterior que estarão em crise caso a situação do mercado financeiro internacional continue a deteriorar-se, mas o nosso balanço de pagamentos. O mais importante é que muitos dos investimentos brasileiros no exterior surgiram em decorrência da situação cambial, que reduziu a rentabilidade das exportações de empresas instaladas no Brasil. Diversas grandes empresas brasileiras transferiram operações para países não sujeitos a variações da taxa cambial, para garantir melhor rentabilidade. Não é um fato positivo. Os impostos pagos ao governo brasileiro foram transferidos para governos estrangeiros e, o que é mais grave, essa fuga também contribuiu para o aumento do desemprego no Brasil. |