domingo, maio 28, 2006

Embate de personalidades Dora Kramer

OESP
Lula reedita modelo 'paz e amor' e Alckmin quer criar 'empatia' com o eleitor


dkramer@estadao.com.br

O presidente Luiz Inácio da Silva já avisou que vai retomar a fórmula que o levou à vitória em 2002, reassumindo a personalidade eleitoral do "Lulinha paz e amor", substituído no governo pelo Lula de sempre, forjado na dinâmica do confronto permanente.

Seu principal oponente, Geraldo Alckmin, convicto de que esta eleição será um "embate de personalidades", também não quer mostrar-se "briguento". Acha que com isso não constrói na cabeça do eleitor a imagem do contraponto, da alternativa. "Nós podemos fazer mais e melhor. O PT já teve a sua oportunidade", é o conceito por trás do slogan ainda a ser lançado.

Contrariando os conselhos de aliados, principalmente os do PFL, recusa-se ao papel de demolidor não por caridade de espírito, mas por estratégia política: "É antipático, o eleitor não quer ser obrigado, compelido a votar em alguém, mas conquistado pelo candidato. Portanto, tenho de criar empatia com as pessoas."

Quando quis sair do personagem ameno, Alckmin soube fazê-lo para tirar de José Serra a indicação do PSDB para disputar a Presidência. Pareceu excessivo e, por que não dizer, ficou antipático. Embora sorria sem se estender em comentários quando instado a falar a respeito do Alckmin combativo e agressivo da disputa interna, afirma que se for necessário ele reaparecerá.

Mas só mais à frente, quando começar a campanha mesmo. O momento, agora, não é de mostrar garras; no máximo, de afiá-las. "Preciso construir o pré-candidato Alckmin, investindo na engenharia política da montagem das alianças nos Estados e já me preparando para uma agenda intermediária, o período depois da convenção nacional de 11 de junho e até o início da propaganda eleitoral em agosto."

Pode até não parecer, mas a "construção" a que Alckmin se refere já começou. Faz parte dela, por exemplo, a modéstia da campanha que tanta irritação provoca nos aliados obrigados a se submeter, por exemplo, aos horários de vôos de carreira.

Tudo muito bem estudado para fazer o contraponto com a exuberância material à disposição de Lula na Presidência. Como quem não quer nada, Alckmin não perde a oportunidade de apontar a "ausência de razoabilidade" no uso "de um Airbus com um Boeing 737 atrás" para percorrer "64 mil quilômetros" em "viagens que nada têm a ver com ações de governo".

Discorre com prazer sobre as manifestações de apreço que recebe durante os vôos. A certa altura saca do bolso do paletó um montinho bem fornido de cartões de visita: "Olha só, é gente que me entrega, oferecendo trabalho voluntário para a campanha", diz, jogando um após o outro sobre a mesa, como quem exibe uma boa mão no carteado. "Nem consigo ler durante as viagens."

Sim, mas onde está esse entusiasmo todo que não aparece nas pesquisas?

"O Mário Covas, em 1998, perdeu para o Maluf nas pesquisas quase a campanha inteira", recorda, informando que seu objetivo é chegar ao segundo turno. Neste aspecto, não se aflige, faz as contas: "Lula tem 42%, eu tenho 20%, se os outros todos somarem 20%, basta crescer 2 pontos porcentuais para chegar à etapa final. Com o índice de desconhecimento em cerca de 50%, não tem como, chego lá."

Mas, para "chegar lá" não basta confiar no desempenho do alheio, pois não?

Alckmin concorda e promete movimento para breve. Nada de muito emocionante. Ele é partidário da tese de que um bom conteúdo compensa eventuais defeitos de forma.

Por isso já prepara sua pauta de defesa de bons valores - "apreço à democracia e respeito à verdade, são os principais" - e a apresentação de um programa de trabalho referido no Plano de Metas de Juscelino Kubitschek. "A Maristela (filha de Juscelino) já me passou o material."

Embora não considere que a disputa será uma luta de ricos contra pobres - "o corte não é pela falta de dinheiro, mas pela carência de informação" -, Alckmin já tem discurso engatilhado para enfrentar a disputa no terreno do assistencialismo.

"Como o Bolsa Família é resultado da junção dos vários programas criados no governo Fernando Henrique, vou manter e até ampliar os benefícios, investindo em emprego e desenvolvimento. O filho é nosso, só mudou de nome."

Por falar no ex-presidente, Fernando Henrique terá algum papel na campanha?

"Será um formulador, não um cabo eleitoral. Agora, se for atacado, vou defendê-lo. A lealdade não pode se submeter aos ditames da propaganda."

Traduzindo: sob a ótica popular, FH atrapalha e, assim, à medida do possível, fica fora da cena.



Vice de Aécio

Do alto de seus 72% de aprovação, o governador Aécio Neves está pensando em dispensar composições políticas para fazer um gesto simbólico na montagem de sua chapa à reeleição: quer o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Velloso de vice.

Ao se aposentar, em janeiro, Velloso se filiou ao PSDB.

Os potenciais aliados reagem, principalmente porque presumem que Aécio deixará o governo antes de completar o mandato para concorrer à Presidência em 2010.