O Estado de S. Paulo |
30/5/2006 |
O anúncio, feito há duas semanas pela Petrobrás, de que dominou novo processo de produção de biodiesel (H-Bio) é uma tentativa de não deixar escapar de seu controle um mercado altamente promissor, como aconteceu com o álcool. Nos anos 80, a melhor resposta da Petrobrás ao mercado do álcool carburante criado pelo Proálcool foi erguer no sertão mineiro (Curvelo) uma desastrada unidade produtora de etanol de mandioca. A Petrobrás não consegue participar do sucesso do Proálcool porque pouco ou quase nada tem a ver com ele. A tentativa agora é conquistar fatias do segmento de exportação por meio de investimentos em terminais de etanol. Até agora, o projeto do biodiesel vinha recebendo do governo mais tratamento social do que econômico. Ao pequeno produtor agrícola vinha sendo dito que passou a ter à sua disposição nova destinação (produção de combustíveis) para sua lavoura de girassol, dendê, mamona e outras oleaginosas. Parece mais viável colher essas matérias-primas a partir de grandes escalas de produção do que de pequenas unidades. O biodiesel não tem o fator econômico limitativo que tinha o Proálcool, cujo custo de produção era maior do que o do seu sucedâneo, a gasolina. O preço (com todos os custos) do biodiesel é bem mais baixo do que o preço do diesel de petróleo. O barril de 159 litros de diesel é negociado em torno dos US$ 90 (cotação internacional), enquanto o preço do barril de óleo de soja oscila perto dos US$ 73. Além disso, a regulação do produto (Lei 11.097/05) criou um mercado cativo para ele. Impôs a adição de biodiesel ao diesel convencional na proporção de 2% de biodiesel para 98% de diesel. Até 2007, a adição desses 2% será facultativa. De 2008 a 2012, será obrigatória. A partir de 2013, essa proporção deve subir para 5%. Isso significa um mercado firme para o biodiesel, de 15 milhões de barris por ano. Nos últimos leilões, a Petrobrás, como agente do Ministério de Minas e Energia, pagou R$ 1,80 por litro de biodiesel (US$ 120 por barril). O H-Bio é uma importante conquista tecnológica da Petrobrás. O diesel comum, que é um derivado do petróleo obtido pelo seu craqueamento nas refinarias, tem de ser submetido a um processo de hidrogenação para que possa ser utilizado nos motores comuns do ciclo diesel. O processo da Petrobrás consiste em submeter a mistura de diesel com 10% de óleo vegetal no mesmo processo de hidrogenação. O produto assim obtido traz algumas vantagens: não gera resíduos e aumenta as qualidades técnicas do produto final. A Petrobrás prevê que em pouco tempo estará em condições de processar o H-Bio em duas refinarias. Como revela o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli de Azevedo, a meta para 2010 é produzir 8,2 mil barris diários de biodiesel. É uma gota diante dos quase 230 milhões de barris diários de diesel consumidos no País, mas mostra a força da Petrobrás e sua determinação em não deixar que as esmagadoras de oleaginosas se avantajem demais nesse segmento. Nivaldo Trama, presidente da ABIOdiesel, que é a associação que cuida dos interesses da indústria produtora de biodiesel (processamento de óleos comuns para transformá-los em biodiesel), reconhece que o anúncio do novo processo da Petrobrás surpreendeu o setor, que teme agora o jogo pesado nessa concorrência. |