O GLOBO
Ilimar Franco
BRASÍLIA. A chegada ao poder de um militante do movimento sindical, o presidente Lula, abriu as portas do governo federal e de empresas estatais aos sindicalistas. Metalúrgicos, bancários, professores, médicos e funcionários públicos abandonaram piquetes e greves e assumiram cargos de primeiro e segundo escalão do governo petista. Foi o caso dos ex-ministros Antonio Palocci, Agnelo Queiroz, Miguel Rossetto, Olívio Dutra, Ricardo Berzoini e Jaques Wagner e também do ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra. Todos chegaram com Lula ao poder. E não estão mais.
As portas também foram abertas aos sindicalistas no INSS. A carreira no movimento sindical, conforme edital de 23 de janeiro deste ano, passou a ter peso três na prova de títulos (de 20 pontos) para os 102 cargos de gerência-executiva. A alteração foi introduzida em 2003 pela diretora de Recursos Humanos do INSS, Lúcia Carvalho, que justificou a decisão afirmando que uma pessoa com um caminhão de diplomas às vezes não corresponde às necessidades gerenciais. Em 2003 a experiência sindical tinha peso um.
Sérgio Rosa, o mais poderoso depois de Lula e Marinho
Muitos sindicalistas continuam no governo ou em órgãos da administração pública: o assessor especial Luiz Gushiken, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho; o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci; o presidente do SESI, Jair Meneguelli; o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto; o integrante do Conselho de Administração de Itaipu João Vacari; e o presidente do Conselho de Administração da Petros, Wilson Santarosa, responsável ainda pela área de patrocínios da Petrobras, que tem orçamento anual de R$ 300 milhões.
Depois de Lula e de Marinho, o ex-sindicalista mais poderoso atualmente é o presidente da Previ, Sérgio Rosa, que já compunha a diretoria da entidade desde o governo passado como representante eleito dos funcionários do Banco do Brasil. Outro ex-sindicalista poderoso é Maurício França Rubens, diretor da Petros, o fundo de pensão dos empregados da Petrobras.
O Ministério do Trabalho tradicionalmente é ocupado por sindicalistas, sobretudo diretorias das Delegacias Regionais do Trabalho e da Fundacentro. Mas no governo Lula eles também estão na administração centralizada. Também vieram do movimento sindical o secretário de Relações do Trabalho, Mario dos Santos Barbosa (Metalúrgicos do ABC); o secretário-executivo, Marco Antonio de Oliveira, que foi coordenador do Departamento de Estudos Socioeconômicos e Políticos da Central Única dos Trabalhadores (Desep/CUT); o secretário de Políticas Públicas de Emprego, Remígio Todeschini (executiva nacional da CUT); e o chefe de Gabinete, Osvaldo Bargas (Sindicato dos Metalúrgicos e CUT).
Na Petrobras, sindicalistas ocupam ainda cargos de assessoria da presidência. A direção da estatal não fala do assunto, mas seus integrantes consideram que experiência sindical não é sinônimo de competência administrativa. Para que essas nomeações saíssem houve muita pressão. Petroleiros petistas enviaram documento ao então presidente do PT, José Dirceu, em novembro de 2002, pedindo nomeações políticas. "Todos os cargos estratégicos do país e da Petrobras deverão ser ocupados, pelo PT e secundariamente pelos aliados de primeira hora", diz o texto da época.