sábado, abril 29, 2006

Os problemas da campanha de Alckmin

VEJA

Para entender Alckmin

Perguntas e respostas sobre
a candidatura que tira o sono
do PSDB e do PFL


Marcelo Carneiro


Lailson Santos
Fotos Luludi/Luz
ESTILO FRANCISCANO
Em pré-campanha, Alckmin tem viajado em aviões de carreira, usado táxi e se hospedado na casa de um primo em Brasília. Na quinta-feira, ele desembarcou em São Paulo, vindo da capital federal em um avião de carreira, tomou café no aeroporto e partiu no táxi do motorista Arlindo Gomes

A pré-campanha de Geraldo Alckmin à Presidência completa um mês nesta semana sob críticas de correligionários e aliados. Estacionado nas pesquisas, o ex-governador de São Paulo não conseguiu montar palanques regionais, continua sem um vice e insiste em imprimir à campanha um ritmo mais lento do que gostariam os engajados na sua candidatura. Na última terça-feira, Alckmin – convocado para uma reunião no gabinete do senador Tasso Jereissati, presidente do PSDB, com a presença do senador Jorge Bornhausen, presidente do PFL – foi instado a tomar as rédeas de sua campanha. Tarefa emergencial: resolver a questão das alianças dos tucanos com os pefelistas nos estados – em especial a Bahia, considerada o nó górdio das negociações. Alckmin prometeu arregaçar as mangas. Tucanos e aliados aguardam ansiosos. Abaixo, dez questões sobre a candidatura do ex-governador.


ÂNIMOS E HUMORES

O PSDB está desanimado com a candidatura Alckmin?
Em público, os tucanos dizem que o ex-governador de São Paulo conseguiu unir o partido e tem conseguido dar ritmo à candidatura. Privadamente, reclamam que a desarticulação na campanha tem tornado inócuas as viagens do candidato aos estados. "Há duas semanas, ele não tinha nem assessor de imprensa para marcar entrevistas nas rádios das cidades que visitava", afirma um parlamentar tucano. Lideranças do partido confirmam: esperavam que o candidato se apresentasse para a campanha já "com uma estrutura grande por trás". Não foi o que ocorreu. "Em vez de chegar de Boeing, ele veio de teco-teco", diz um tucano envolvido na campanha. "Estamos tendo de providenciar tudo agora."

Há alguma chance de Alckmin ser substituído por José Serra?
Nenhuma. Primeiro, porque, nesse momento, trocar de candidato seria mais do que desastroso para o PSDB: significaria uma admissão de fracasso por parte dos tucanos. Depois, porque Serra, candidato ao governo do estado de São Paulo, nem sequer admite tocar no assunto.


CHANCES

Alckmin tem chance de subir nas pesquisas até agosto, início da propaganda eleitoral na televisão?
Entre os coordenadores da campanha, a expectativa é que ele cresça mais 5 pontos até agosto e Lula baixe um pouco seu porcentual (hoje, o placar está em 20% contra 40%). Alckmin insiste em dizer que sua campanha irá "dar um salto" com o início do programa eleitoral. Publicitários, porém, afirmam que o telespectador não presta atenção nas propostas de candidatos que não conhece. "Alckmin tem uma taxa muito alta de desconhecimento. Se quiser mesmo dar um salto, precisa resolver esse problema logo", diz o publicitário Lucas Pacheco, que já fez doze campanhas majoritárias.

Alckmin conseguirá sair do patamar de 10% de intenções de voto no Nordeste?
Sim. Isso porque a taxa de desconhecimento do tucano na região, o segundo maior colégio eleitoral do país, ainda é muito alta: chega a 60%. Com as viagens, a propaganda eleitoral e a indicação do vice, fatalmente nordestino, essa porcentagem irá subir. Especialistas em campanhas afirmam, no entanto, que esse crescimento previsível precisa ser substancioso. Eles calculam que, para ter chance de bater Lula, Alckmin terá de dobrar sua porcentagem de intenções de voto no Nordeste até agosto.


ESTILO ALCKMIN

O estilo franciscano da pré-campanha funciona?
Para quem precisa desesperadamente se tornar conhecido em um país com as dimensões do Brasil, certamente não. Para quem está interessado em fazer um contraponto ao estilo petista de administrar, a resposta é talvez. Já para quem está preocupado em evitar contestações judiciais, o que é o caso do PSDB, não há outro jeito, afirma o presidente do partido, Tasso Jereissati. Oficialmente, as campanhas eleitorais só começam no dia 6 de julho. Até lá, é proibido arrecadar recursos para a campanha. Os gastos dos pré-candidatos, portanto, têm de ser bancados pelos partidos. Como dificilmente uma sigla seria capaz de bancar, sozinha, cerca de 1 milhão de reais mensais necessários para pagar o deslocamento aéreo de um candidato à Presidência (considerando cinco horas diárias de vôo em jato alugado), é preciso que o partido recolha doações em dinheiro ou horas-vôo. "Como ainda estamos montando nossa estrutura, muitas vezes não conseguimos providenciar essas doações a tempo, e a solução, então, é o vôo de carreira", diz Tasso. O tucano afirma que, no momento em que a campanha começar oficialmente, o problema estará sanado. "Teremos uma equipe só para organizar um plano de doações de horas-vôo com a iniciativa privada." João Carlos Meirelles, coordenador de programa da campanha, tem dito, no entanto, que o ex-governador pretende se manter fiel a esse estilo monástico até o fim, o que significa fazer "pelo menos 70% das viagens em vôos comerciais". "Como, no auge de uma campanha presidencial, um candidato precisa visitar até quatro diferentes estados num só dia, é certo dizer que essa opção fará de Alckmin um candidato-poste", critica um tucano.


Oscar Cabral
Cesar Maia, do PFL, sobre a coordenação da campanha de Alckmin: "Faltam experiência e lastro"


A coordenação da pré-campanha tucana tem sido alvo de críticas. Elas são procedentes?
Sim. Alckmin ainda não conseguiu montar um núcleo capaz de imprimir comando e personalidade à campanha. "O coordenador da campanha, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), não tem lastro político, experiência nem currículo para essa tarefa", diz Cesar Maia, prefeito do Rio de Janeiro, que vinha sendo o porta-voz das insatisfações do PFL. Desde a semana passada, Maia vem diminuindo o tom das críticas. Nas viagens aos estados, o candidato do PSDB muitas vezes desembarca praticamente sozinho e é recebido por poucas lideranças locais. Em outro campo, o das articulações políticas, a campanha também caminha em marcha lenta. Um pequeno sinal de aceleração surgiu na terça-feira passada, quando os senadores Tasso Jereissati e Jorge Bornhausen reuniram-se em Brasília com o ex-governador. No encontro, o recado foi claro: Alckmin precisava assumir pessoalmente o comando da campanha, empenhando-se em resolver problemas que já deveriam ter sido solucionados – entre eles, a aliança PSDB-PFL. No dia seguinte à reunião, Alckmin participou de um jantar com a bancada liberal no Senado e conversou reservadamente com cada um dos caciques dos partidos. "Em 48 horas, a campanha avançou mais do que havia caminhado até o momento", afirma Bornhausen.

Uma campanha para o governo do estado é igual a uma disputa presidencial, como acredita Alckmin?
Esse tem sido, segundo especialistas, um dos principais erros do candidato tucano. Em todas as campanhas de que participou até o momento, Alckmin sempre começou em compasso mais lento para alcançar velocidade na reta final. Seus assessores mais próximos dizem que a estratégia agora será a mesma. "Em uma campanha estadual é possível começar mais devagar. No plano federal, não. Alckmin precisa imprimir um ritmo forte desde o início para enfrentar o desconhecimento e articular a campanha nacionalmente", diz o consultor político Gaudêncio Torquato.


ALIANÇAS



Jose Paulo Lacerda/AE
Tasso: reunião com Alckmin e o PFL para aparar arestas

Por que o PFL resiste a indicar um candidato a vice para a chapa tucana?
Há dois motivos principais. O primeiro é a dificuldade em fechar acordos regionais que garantam um palanque para Alckmin em cada estado. Em vários deles, PSDB e PFL disputam o mesmo espaço nas candidaturas para o governo e para o Senado. "Se entregarmos logo o vice, os diretórios do PSDB nos estados vão cruzar os braços e não farão nada para costurar melhor as alianças locais com o PFL", diz o deputado fluminense Rodrigo Maia, líder pefelista na Câmara. O segundo motivo é a espera de uma decisão do PMDB, que ainda não definiu se terá candidato próprio. Se o PMDB abrir mão de uma candidatura à Presidência, os pefelistas poderão integrar a chapa tucana com a indicação do vice e ainda ficar livres para acordos regionais com os peemedebistas.


CHUMBO GROSSO

As recentes denúncias contra o candidato tucano podem comprometer a candidatura?
Ainda é cedo para avaliar. Mas os coordenadores da campanha de Alckmin já se preparam para enfrentar uma ofensiva dos petistas. No PSDB é dado como certo que o caso dos vestidos doados por um estilista à ex-primeira-dama Lu Alckmin e as denúncias envolvendo a Nossa Caixa, banco estatal paulista, serão, sim, explorados nos programas do PT.

O comando da campanha tucana diz que não atacará diretamente Lula. Essa estratégia funcionará?
É uma questão polêmica. O manual dos marqueteiros diz que nenhum candidato vence eleição batendo no adversário. A estratégia pode criar um alto índice de rejeição em quem bate. Porém, no governo Lula, os casos de corrupção são tão estarrecedores que dificilmente não serão explorados na campanha. O plano do PSDB é deixar essa tarefa para os outros partidos da oposição.

 

Com reportagem de Camila Pereira e Juliana Linhares