Editorial |
Correio Braziliense |
28/3/2006 |
A saída do ministro da Fazenda era questão de tempo. Há cerca de 10 meses ele vinha sofrendo sucessivas denúncias de envolvimento em casos de corrupção. As acusações vêm do tempo em que era prefeito de Ribeirão Preto. Haveria ali um esquema de cobrança de propinas em troca de contratos de prestação de serviços para a prefeitura. Antonio Palocci agiu com presteza depois da primeira divulgação de desmandos na administração da cidade do interior paulista. Convocou a imprensa em pleno domingo e respondeu com serenidade às questões que lhe foram apresentadas. Demonstrou segurança e, aparentemente, calou os delatores. Mas foi ilusão. Fatos desabonadores trazidos à luz por ex-assessores empurraram a crise para o gabinete do ministro. Palocci compareceu duas vezes ao Congresso para depor em comissões parlamentares de inquérito. Graças à calma e à coerência demonstradas, conseguiu sair de cabeça erguida dos embates a que foi submetido. A gota d´água foi o depoimento de Francenildo dos Santos Costa. Caseiro da mansão alugada pela turma de Ribeirão Preto que a utilizava para reuniões com lobistas e encontros íntimos, Francenildo afirmou ter visto o ministro na casa do Lago Sul, contrariando a afirmação de Palocci de que jamais havia pisado lá. Denúncias se sucederam. O homem forte do governo sangrou durante meses. A quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro pela Caixa Econômica Federal (instituição subordinada ao Ministério da Fazenda) tornou a situação insustentável. Na sexta-feira, em discurso na Câmara Americana de Comércio, em São Paulo, o ministro fez balanço dos pouco mais de três anos de gestão à frente da economia nacional. O pronunciamento soou como despedida. Pressionado, Palocci pediu exoneração. A queda era questão de tempo. Demorou. Ele poderia ter saído antes e poupado o desgaste enorme que o governo precisou administrar ao longo dos últimos meses. É a segunda peça-chave da administração Lula derrubada pela crise do mensalão. Com desgaste semelhante, José Dirceu precisou deixar a chefia da Casa Civil do Planalto. Posteriormente teve o mandato de deputado federal cassado pela Câmara dos Deputados. Espera-se que Guido Mantega, sucessor de Antonio Palocci, mantenha a estabilidade da economia. Domar a inflação é conquista da qual o povo brasileiro não abre mão. O governo e a oposição devem atuar com responsabilidade e bom senso para evitar que seja tratada como moeda eleitoreira. Não é demais lembrar que a eleição passa, mas o país permanece. É nos 180 milhões de brasileiros que os interesses se devem concentrar. |