FOLHA
RIO DE JANEIRO - A brasileiríssima expressão "no fim, tudo acaba em samba" é originalmente carioca, mas, por influência paulista, acabou se transformando em "acabar em pizza".
Agora, numa síntese interestadual pra lá de dialética, a deputada Guadagnin juntou as duas em uma e a pizza acabou em samba. A impunidade ao quadrado.
E depois ainda veio ofender os idosos, as mulheres, os gordos e os feios, que não aceitam nada do que ela comemora, dizendo que sua atitude só teve essa dimensão por sua condição de mulher madura, acima do peso e fora dos padrões de beleza vigentes. Ah!, e porque luta pela justiça. Parece que os cidadãos e cidadãs honrados que não lutam pela justiça são todos jovens, magros e bonitos. E burros.
A deputada ofendeu também milhões de machistas honestos, trabalhadores e patriotas quando sugeriu, em tom indignado e ressentido, que, se fosse uma gostosona ou um homem, não reclamariam tanto. Podem ser machistas, mas não são burros nem agüentam mais corrupção, mentiras e cinismo.
Se a Maria Fernanda Cândido fosse deputada e sambasse no plenário, seria lindo de ver, mas horroroso se fosse para comemorar a absolvição de colegas pilhados com a mão na massa. Mas Maria Fernanda não faria nem uma coisa nem outra: é uma mulher de responsabilidade e compostura.
A defesa da musa da pizza -cada momento de nossa história tem a musa que merece- faz par perfeito com Severino, dizendo-se vítima de preconceito por ser macho, nordestino, feio e barrigudo. Mas nem Severino se deu à "grotesqueria" de xaxar em plenário.
A deputada é também uma mulher de sorte; a queda de Palocci ocupou todos os espaços da mídia e tirou-a da linha de tiro. Mas nada que ela faça ou diga apagará da memória popular as inesquecíveis imagens de uma deputada rindo e sambando pela impunidade e pelo privilégio.