BRASÍLIA - Se tem uma coisa que funciona como relógio suíço dentro da administração federal do PT é o discurso concatenado de todos os ministros para proteger Lula em momentos de crise. Tem sido assim no caso da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo.
A história oficial do momento é singela. Lula, é claro, não sabia de nada. O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci teria conseguido enganar a todos. Ele falava e repetia que não tinha nada a ver com o caso de quebra do sigilo. Passou mais de uma semana recluso dentro do Palácio do Planalto. Reuniu-se com o grupo mais próximo de Lula e com o próprio presidente várias vezes.
Enfim, ninguém teria captado nas frases e nos olhares de Palocci algo que pudesse indicar uma mentira. O sistema de informações do governo também não teria obtido informações a respeito. Um grande ator, o ex-ministro. Até que, na segunda-feira, tudo veio abaixo, pois o então presidente da Caixa Econômica Federal resolveu contar que o sigilo foi mesmo quebrado e que uma cópia do extrato foi entregue a Palocci.
Nesse momento, segue a versão oficial da história, tomado de indignação, Lula demitiu o ministro.
Ministros repetem essa versão estapafúrdia sem a menor cerimônia. Julgam tratar apenas com néscios ou portadores de afasia cerebral.
A parte mais surrealista da pantomima se deu ontem, dentro do Palácio do Planalto, na cerimônia de posse de Guido Mantega, novo ministro da Fazenda. Todas as homenagens foram para Palocci. Lula o chamou de "companheiro" e de "irmão".
Na platéia, palmas e emoção dos ministros que continuavam a sustentar que Lula havia sido traído pelas mentiras contadas por Palocci.
É o governo do PT inovando mais uma vez. O presidente da República demite um ministro acusado de cometer um crime e de tê-lo traído. Na saída, faz uma cerimônia para homenagear o traidor. Tenha dó.
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quarta-feira, março 29, 2006
FERNANDO RODRIGUES A história oficial
FSP