Pesquisa do instituto Apoyo, Opinión y Mercado publicada esta semana pelo jornal boliviano "La Razón" mostra que o presidente Evo Morales, que completou seu primeiro mês de governo, conta com a aprovação de 79% dos eleitores, cinco pontos mais do que quando assumiu o cargo, em 22 de janeiro.
É claro que um mês é prazo exíguo demais para fazer qualquer avaliação de governo, mas não deixa de ser alvissareiro que, nesse período, o novo dirigente boliviano não tenha criado nenhum incidente internacional.
Havia motivos de sobra para recear que o faria. Morales foi eleito pelo caricatural MAS (Movimento ao Socialismo), partido que se pretende marxista e cujas idéias econômicas são resumidas na plataforma de nacionalização do petróleo e do gás bolivianos. Tendo entrado na política liderando os plantadores de coca, durante a campanha o presidente referia-se a si próprio como "o pior pesadelo de Washington". Como se não bastasse, ele é tido como uma espécie de pupilo do neocaudilho das Américas, Hugo Chávez. E não são poucos os observadores que prevêem que o líder boliviano seguirá os passos de seu mentor venezuelano.
Diante de tal histórico, a ausência de notícias de confrontos converte-se, em si mesma, em um fato digno de nota. Pelo menos até aqui Morales tem sabido seguir o caminho do diálogo -mesmo com os Estados Unidos- e vem apostando num populismo "light". Entre as medidas que o ajudaram a erguer sua popularidade estão a redução de 57% de seu próprio salário e a ordem para que todos os altos dignitários bolivianos (presidente, vice e os chefes das duas casas legislativas) dividam a mesma residência oficial.
Resta saber se Morales será capaz de manter a mesma atuação quando os conflitos que tornam a Bolívia quase ingovernável ficarem explícitos com a convocação da Assembléia Constituinte e com o referendo sobre as autonomias das províncias, previstos para este ano.