quinta-feira, março 02, 2006

Editorial da Folha de S Paulo PIB ABAIXO DA NOTA

Vai surtindo efeito a política da Fazenda visando a acelerar a melhora na percepção de risco externo sobre o Brasil. A Standard & Poors, uma das principais agências de classificação de solvência, acaba de elevar a nota atribuída à dívida brasileira em moeda forte. Com mais dois movimentos no mesmo sentido, o país entrará na lista de nações com "grau de investimento".
Alguns grandes gestores de poupança internacionais hoje estão impedidos, seja por normas de seus países-sede seja por regulamento interno, de comprar papéis de nações que não detenham grau de investimento. Se o Brasil for alçado a esse patamar -em que estão, por exemplo, o México, o Chile e a China-, abrirá as portas a esses aplicadores, entre os quais figuram poderosos fundos de pensão e seguradoras.
A intenção da equipe econômica brasileira é a de que esse afluxo de novos compradores de papéis do Brasil ajude a alongar os prazos da dívida e a derrubar os juros cobrados do país. Se há demanda crescente por um título, seu ofertante aumenta sua chance de reduzir seus encargos, pois há mais compradores dispostos a receber retornos menores.
A quitação antecipada de débitos com o FMI e com o mercado global, a emissão de dívida externa em reais e a isenção de Imposto de Renda a estrangeiros que comprarem títulos domésticos do Tesouro foram as principais ações do governo almejando o grau de investimento.
Se essa política segue na direção correta, tem custo fiscal alto demais. Os dólares para quitar débitos externos foram comprados no Brasil com a emissão de dívida interna nova, que remunera o investidor à taxa mais alta do planeta. São esses juros básicos nas alturas que atraem capital especulativo externo em excesso. E o governo incorre em mais prejuízos ao tentar conter seus efeitos no câmbio.
O fato é que esse sucesso parcial na pilotagem da finança externa se mostra minúsculo diante do resultado pífio do PIB em 2005. E seguirá assim enquanto a política econômica mantiver-se incapaz de converter a bonança global em mais produção, renda e emprego para os brasileiros.