quinta-feira, março 02, 2006

CLÓVIS ROSSI Saindo do radar (e do samba?)

FOLHA
SÃO PAULO - O presidente George Walker Bush chegou ontem à Índia, em viagem que serve para sinalizar a nova geopolítica global, em que um dos eixos é a Ásia (ou Índia e China, China e Índia).
É eloqüente que, pouco antes, a diplomacia norte-americana tenha promovido uma baita reformulação, tirando gente de países como Rússia e Brasil e aumentando os postos na China e na Índia, para citar apenas os chamados Bric. É a sigla para Brasil, Rússia, Índia e China, aposta da Goldman Sachs como potências mundiais até 2050.
É óbvio que há muitas razões para a emergência vigorosa de China e Índia. Mas, nas muitas conversas com representantes indianos durante o encontro anual 2006 do Fórum Econômico Mundial, em Davos, todos aos quais eu solicitava que selecionassem um fator como o mais importante cravavam educação.
Vale para a Índia, vale para a China. Recente relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) sobre a economia chinesa aponta a educação como um dos fatores que explicam "por que o crescimento foi tão rápido". Cita o fato de que o governo lançou programa para dar nove anos de educação a todas as crianças. Mais: em 2006, os nove anos serão atingidos também na área rural, em geral a mais atrasada.
Aí, você volta para o Brasil e cai no espanto manifestado por Norman Gall pelo fato de a elite brasileira ter apenas 10,6 anos de escolarização. Ou seja, na China, TODOS têm nove anos. No Brasil, os melhores têm só pouco mais. Gall é um jornalista nascido nos Estados Unidos, mas tão abrasileirado que criou em São Paulo o Instituto Fernand Braudel, excelente centro de estudos.
Entendeu por que estamos saindo do radar do futuro?
O pior é que, no Carnaval de São Paulo, ganha um japonês como mestre-sala; no do Rio, ganha a Venezuela de Hugo Chávez, como patrocinadora da Vila Isabel. Até no samba, pô? Começo a temer a seleção do Irã na Copa da Alemanha.