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Que peso tem, em uma campanha para o Planalto, o fato de José Serra (PSDB) ter firmado o compromisso de não deixar a prefeitura para concorrer a outro cargo público, mas agora poder vir a ser o candidato tucano à Presidência da República? O mesmo peso, muito provavelmente, que teve a quebra de compromisso politicamente semelhante feito pelo governador Mário Covas (PSDB), em 1998. Uma pesquisa no noticiário da época e o comportamento de Marta Suplicy (PT) durante aquela campanha ao governo do Estado talvez ajudem a elevar o debate político atual. O caso, que vou batizar aqui de caso “Covas-Maluf-Marta”, guarda ainda, como veremos, incríveis semelhanças entre os movimentos das pesquisas da época e os das de agora, envolvendo Luis Inácio Lula da Silva e José Serra (PSDB). Em 1997, o então governador do Estado de São Paulo, Mário Covas, anunciou publicamente que não disputaria a reeleição. Fez o anúncio e reafirmou inúmeras vezes a decisão. Entre as pré-candidaturas postas, estavam a do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) e a da deputada federal Marta Suplicy (PT), além de uma penca de outros nomes, todos na coluna das possibilidades – Serra, Francisco Rossi (PDT), Orestes Quércia (PMDB), Geraldo Alckmin (PSDB) etc. Tal como hoje, na virada de 1997 para 1998, do término do ano pré-eleitoral para o início do ano eleitoral, os institutos de pesquisa foram a campo para tomar o pulso do eleitor. Primeira lição sobre as pesquisas a transportar daquela época para esta: candidato declarado e bem conhecido do eleitor sempre aparece muito bem colocado nas pesquisas feitas com muita antecedência. Revisitem o noticiário sobre as pesquisas do fim de 1997: Maluf com 35% a 40% das intenções de voto, e os demais nomes sempre na faixa dos 15%, quando muito 20%. Maluf era candidato declarado, movimentava-se como candidato, falava como candidato e discutia os assuntos de São Paulo como se já estivesse em campanha. Os demais nomes, a começar pelo de Covas, amarrado ao compromisso de se ir para a aposentadoria política, eram tratados como possíveis. Lula hoje, assim Maluf ontem, está no lugar que deveria estar nas pesquisas. O eleitor, diante de tamanha antecedência eleitoral, sempre tende a citar o nome que junta conhecimento e evidência circunstancial. Maluf era citado como imbatível, e Covas era dado como esperto por, supostamente, ter sacado que a disputa da reeleição seria apenas um ritual de inútil sacrifício. O impressionante, hoje, é que Lula tenha uma vantagem tão pequena em relação a Serra apesar de tamanha exposição eleitoral. Portanto, senhores, parem de ler o que não está “escrito” nas pesquisas, que Lula ou Serra estão “consolidados”, que Lula é “imbatível”, que Serra “ganha fácil”. O que as pesquisas dizem, hoje, é que o jogo está aberto. Em 1998, quando a campanha começou para valer, Covas e Maluf passaram ao segundo turno, e Covas, com apoio de Marta, entre outros, derrotou Maluf. Outro imperativo Ontem, como hoje, esses compromissos, ao contrário do que querem fazer crer alguns, não carregam nenhum imperativo moral. São apenas e tão somente imperativos políticos. Detalhe curioso tirado de reportagens da época: nove em cada dez textos do noticiário diziam, ao listar os prontos fracos e os pontos fortes de cada candidato, que, entre os problemas de Covas, caso ele viesse a se candidatar, estava o “desgaste” por ter “de voltar atrás na palavra empenhada de não se candidatar”. Segunda lição: deixem, senhores, o julgamento moral para as ações de Estado sob responsabilidade do político eleito. O eleitor nunca teve uma relação moralista com os acordos políticos. [ruinogueira@primeiraleitura.com.br] |
terça-feira, fevereiro 28, 2006
Serra, Covas e a “palavra empenhada” em 1998 Por Rui Nogueira
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