Merval Pereira - Terceira via |
O Globo |
24/2/2006 |
O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, tem uma experiência semelhante à do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin: saiu nas pesquisas de opinião em 2002 com 2% dos votos e acabou sendo eleito contra os dois candidatos que polarizavam a cena política no seu estado, Tarso Genro (PT) e Antônio Britto (PPS). Alckmin apareceu em agosto atrás de Maluf, que àquela altura podia sonhar até mesmo em ganhar no primeiro turno, e acabou vencendo um segundo turno contra o candidato petista José Genoino. Os dois têm a mesma crença: a campanha é decidida no horário eleitoral gratuito na televisão, quando os candidatos ganham visibilidade nacional e podem tentar convencer o eleitorado de que são a melhor alternativa. Acreditam que podem fazer, em nível nacional, o que fizeram em seus estados, embora sejam praticamente desconhecidos fora de seus redutos de atuação política. Alckmin leva uma vantagem enorme sobre Rigotto, pois sai com o apoio de 60% do estado que tem 25% do eleitorado nacional, e por isso aparece já nas pesquisas de opinião com cerca de 20% das intenções de votos. Como Rigotto, ainda luta dentro do partido para ser o candidato do PSDB. Já Rigotto, que tem apenas 2% nas últimas pesquisas, tem dois obstáculos antes de chegar a ser candidato: tem que vencer Anthony Garotinho nas prévias de março, e depois resistir à previsível pressão dos governistas do PMDB para que sua candidatura não seja confirmada na convenção partidária de junho. Com a subida de Lula nas pesquisas de opinião, o grupo governista dentro do PMDB ganhou força em sua tese de que o partido não precisa decidir agora se terá ou não candidato próprio. Mas, como as prévias estão confirmadas pela direção nacional, duas manobras são possíveis: esvaziá-las, para tirar a legitimidade do resultado, ou contestar na Justiça os critérios proporcionais do peso de cada estado. O ex-governador do Rio Anthony Garotinho está em campanha há muito tempo e anuncia uma vitória arrasadora, na proporção de 70% a 30%, resultado que surgiu, segundo ele, de uma pesquisa que fez entre os eleitores do partido. Já Rigotto garante que a pesquisa não passa de um trabalho de telemarketing que Garotinho utiliza para levar aos convencionais suas propostas. As respostas dos convencionais seriam apenas formais, sem significar intenção de apoio a Garotinho. Só será possível verificar a força dos governadores e dos líderes regionais, cuja maioria apóia Rigotto, se e quando a prévia se realizar. Garotinho já trombeteou que tinha o apoio do líder paulista Orestes Quércia, que apóia Rigotto e diz aos quatro ventos que quer dar “umas bordoadas” em Garotinho. O governador do Rio Grande do Sul, que se licencia do cargo no domingo para se dedicar exclusivamente às prévias, teme mais as manobras dos governistas para melar as prévias e levar o PMDB para formar a chapa com Lula, do que uma derrota para Garotinho nas prévias. Não é por acaso que o presidente do Supremo, ministro Nelson Jobim, já anunciou que se filiará ao PMDB agora em março, quando se aposentar do STF. Não será candidato a cargo algum, como tem afirmado, mas estará apto a exercer o papel de vice-presidente na chapa de Lula se for “convocado” pelas lideranças de seu partido. Caso, como é mais provável, os governistas não consigam oficializar o apoio do PMDB a Lula, vão tentar fazer com que o partido pelo menos não tenha candidato, especialmente se o vencedor das prévias for Garotinho, que tira votos de Lula. O governador Germano Rigotto acha que tem chance de crescer junto à opinião pública exatamente pela polarização do debate político entre os candidatos do PT e do PSDB. Ele prevê uma campanha com alto grau de agressividade de parte a parte, e pretende aparecer como uma proposta nova para o eleitorado, afirmando que tanto PT quanto PSDB têm razão de se atacarem mutuamente. Rigotto ontem teve uma reunião com economistas do PMDB, liderados pelo ex-presidente do BNDES Carlos Lessa, na qual se discutiu uma alternativa à política econômica aplicada pelo governo Lula, que ele classifica de “mera continuação” da política do governo de Fernando Henrique. “Por que em 12 anos não fizeram uma reforma tributária?”, pergunta, dando o tom da crítica que fará aos dois candidatos principais. Ele evita ser taxado de intervencionista, mas critica a valorização do real e diz que a redução mais rápida dos juros poderia fazer com que o país crescesse mais rapidamente. Acha que hoje o Banco Central brasileiro tem “o bônus de ser independente, mas não tem o ônus”, dizendo que não se incomodaria de formalizar a independência do Banco Central caso ele tivesse algumas metas a atingir relativas ao crescimento econômico do país e prestasse contas ao Congresso. É acusado por Garotinho de ser um candidato laranja de Lula, para impedir que o PMDB tire votos do PT. Caso ultrapasse os obstáculos, vai tentar uma aliança com PDT e PPS para se tornar uma terceira via não populista, de centro- esquerda, contra a polarização PT-PSDB. 1- Populismo cambial: a eliminação do Imposto de Renda sobre os lucros de investimentos estrangeiros em títulos nacionais, decisão adotada pelo governo brasileiro recentemente, está em discussão no Chile. Joaquín Vial, economista-chefe do grupo BBVA, chama a atenção para o perigo da adoção: “Não é o tipo de medida que se deve tomar quando o dólar está sob pressão, porque favorece a entrada de capital especulativo”. 2- Populismo creditício: na África do Sul, um dos temas eleitorais mais candentes são os créditos consignados. Os eleitores cobram dos candidatos garantias de renegociação de dívidas. Estão todos quebrados. |