FOLHA
BRASÍLIA - Lula quer votos da classe média. Pretende dar uns caraminguás para quem tem empregado doméstico. Permitirá algum abatimento no Imposto de Renda ou no valor do INSS. É o atraso do atraso.
A medida é ineficaz para reduzir a informalidade. Atinge a faixa salarial de até um salário mínimo. Essa parcela de empregados trabalha em casas onde possivelmente não se paga Imposto de Renda.
Descontar diretamente o valor pago ao INSS é pior. O pepino estoura mais adiante. O rombo será coberto pelos mesmos que hoje festejam o desconto. No fundo, o objetivo é só mesmo fidelizar o eleitor de classe média para garantir a reeleição de Lula -à custa de perpetuar uma iniqüidade tipicamente brasileira.
Basta folhear o jornal, mesmo durante esta semana de Carnaval. Inúmeros apartamentos novos à venda. Mesmo nos imóveis de dois quartos, modestos, não faltam as curiosas "DCEs" (dependências completas de empregada). O Brasil é o único país do planeta no qual os apartamentos mais simples já vêm projetados na planta com o quarto de empregada.
A classe média detesta retirar o prato da mesa depois de almoçar. Claro, a empregada dá um jeito. Agora, com a ajuda lulista, esse serviço fica ainda mais barato.
A Constituição garante até o direito à vida aos brasileiros, mas esqueceu das domésticas. Elas não têm, por exemplo, Fundo de Garantia.
Para promover a inclusão dos milhões de empregados domésticos, seria necessário equiparar seus benefícios aos de outros assalariados. "Ah, mas aí custa muito caro, e a maioria seria demitida", diria um típico neoliberal petista. Pode até ser.
Mas, se o negócio do PT é igualdade de direitos, é o caso então de retirar dos outros trabalhadores as benesses não outorgadas aos empregados domésticos. "Não é uma má idéia", pensará o petista. Só que essa é uma maldade para o segundo mandato de Lula. Por enquanto, só populismo barato para garantir a reeleição.