SÃO PAULO - Em mais um de seus delírios megalômanos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que seu governo está fazendo história ao "repartir com os pobres o dinheiro arrecadado com os ricos".
Fazendo história, talvez até esteja, mas pelo motivo exatamente oposto conforme a análise de Carlos Lessa, que foi presidente do BNDES com Lula, mas incomodou demais muita gente poderosa, até do governo, e teve que cair fora.
Vejamos o que diz Lessa sobre quem reparte o que com quem: "Enquanto isso, o governo federal paga R$ 146 bilhões de juros da dívida pública, a qual não pára de crescer e já se aproxima de R$ 1 trilhão. Segundo estimativa do professor Marcio Pochmann, 70% desses juros destinam-se a apenas 20 mil famílias. São R$ 110 bilhões para os muito ricos, em contraste com R$ 7 bilhões para os muito pobres. O governo pratica a mais brutal concentração de renda e riqueza do planeta. Aqui reside a grande maldição, que, com o tempo, só tem feito crescer".
O artigo completo de Lessa foi publicado por esta Folha, no último dia do ano passado.
Já usei esses dados, mas não custa repeti-los, na medida em que o presidente também repete sua megalomania e há sempre a possibilidade de que uma mentira muitas vezes repetida vire verdade.
A única coisa que se pode dizer a favor de Lula, nesse quesito, é que ele está longe de ser o único que fez tão maciça transferência de renda -não para o andar de cima, mas para a cobertura do andar de cima.
Essa política é tão velha quanto o país, a ponto de ter produzido uma das sociedades mais desiguais do planeta. O tucanato, primeiro, e Lula, depois, apenas continuaram com o jogo. Para o andar de baixo, introduziram o "sopão dos pobres", na forma das diversas bolsas-esmola, criadas pelos primeiros e ampliadas pelo atual governo.
Algum dia alguém vai se habilitar a romper a "grande maldição"?
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