Há mais pobres, em termos absolutos e relativos, nas metrópoles brasileiras do que na zona rural. A pobreza em São Paulo e no Rio de Janeiro, que aliam baixa geração de emprego e alto custo de vida, tem se mantido estável. Essas conclusões de Sônia Rocha, do Instituto de Estudos do Trabalho e da Sociedade, deveriam levar a reflexões sérias sobre as diretrizes das políticas públicas brasileiras. De 2003 para 2004, enquanto a economia do país cresceu quase 5%, o contingente de 7,5 milhões de pessoas pobres habitando a região metropolitana de São Paulo ficou inalterado. Pelo cálculo de Rocha, houve até mesmo um pequeno acréscimo, de mais de 200 mil pessoas, em suas fileiras, o que levou a taxa de pobreza no conurbado a 41,6% da população. A metodologia da pesquisadora tenta expressar o que o senso comum intui: deixar de ser pobre em São Paulo requer mais rendimento nominal do que em Salvador, por exemplo. Seu estudo demarca a linha da pobreza em R$ 250,79 mensais por pessoa para o primeiro caso e em R$ 181,19, para o segundo. Políticas de transferência de renda ignoram tal assimetria ao estabelecer padrão único para o território nacional. São menos eficazes onde o custo de vida é mais alto e talvez até extrapolem o razoável onde o dinheiro compra mais. Seguindo o raciocínio, é preciso questionar se a concentração de programas de renda mínima no Nordeste rural e das pequenas cidades já não está em desacordo com a distribuição nacional da pobreza. Mais importante é notar que a economia das maiores regiões metropolitanas não tem gerado postos de trabalho necessários para que a pobreza diminua. Enquanto isso, o arranjo de políticas de desenvolvimento regional continua a responder ao diagnóstico dos anos 50 e 60. Passa da hora de corrigir tal distorção. Se a evidência econômica não bastar, que se leiam os gráficos de mortes por homicídio nessas áreas onde vivem mais de 20 milhões de pobres. |