sábado, janeiro 28, 2006

CLÓVIS ROSSI A tardia angústia da elite

FSP



DAVOS - Bateu angústia no andar de cima do andar de cima brasileiro, aquele que vem com certa freqüência a Davos para os encontros anuais do Fórum Econômico Mundial.
Esta Folha já relatou, na edição de ontem, o desconforto do ministro Luiz Fernando Furlan, 12 anos de Davos, nove como empresário, três como ministro. Desconforto tamanho que parece estar de saída.
Ontem ele brincou com o fato de que meu salário/hora é, agora, maior que o dele, como ministro, para completar: "Ainda bem que é só mais este ano" (de salário mais baixo do que na iniciativa privada).
Ou acha que Lula perderá a eleição ou, mesmo com Lula, pede o boné e volta para a Sadia.
Furlan é evidentemente um vencedor. Não apenas no cenário nacional. A empresa na qual trabalhava está presente em muitas partes do mundo, o que não acontece apenas por sorte ou acaso.
Da mesma forma, outros brasileiros angustiados são vencedores. Falei ontem com Alain Belda (presidente mundial da Alcoa) e com Antônio Monteiro de Castro, executivo-chefe mundial da British American Tobbaco, a maior produtora e vendedora de cigarros do planeta.
Um vive em Nova York, o outro, obviamente, em Londres. Não é fácil nem para britânicos ou norte-americanos viverem como triunfadores nessas duas cidades, as mais cosmopolitas do planeta. Imagine estrangeiros, ainda mais tupiniquins.
Os dois também estão agoniados com o Brasil. Se tivessem ficado quando Lula foi eleito, raciocinando preconceituosamente com a vitória de um operário sem formação escolar superior, eu não justificaria, mas entenderia.
Não foi assim. Ficaram felizes com a política econômica de Lula.
Agora, verificam que ela está sendo incapaz de tirar o país da mediocridade em que se debate há anos (ou séculos?).
E ainda há quem diga, maldosamente, que sou pessimista.

@ - crossi@uol.com.br