BRASÍLIA - Se você já foi, sabe do que estou falando. Se ainda não foi, não vá. Falo, claro, das viagens de carro nas estradas brasileiras. Só vendo (e sentindo) para crer.
É tradição de Natal: faço os 1.000 km entre São Paulo e Brasília com a família e, depois, divido a perplexidade/irritação com você neste espaço. Haja buraco! E perigo de vida!
Dentro de São Paulo, você se sente no Primeiro Mundo, mas paga uns R$ 90 de pedágio, somando ida e volta. Chega em Minas (quarto Orçamento da República e um dos principais exportadores agrícolas) e eis a tragédia. Dá vontade de implorar por um pedagiozinho, por favor! Mas e quem usa as estradas sempre?
Eis uma mistura explosiva: filas de caminhões, motoristas de carros pouco acostumados a estradas, buracos assombrosos (até com cones e galhos, para alertar os incautos). E chove sem parar. Os veículos não andam em fila; para fugir da buraqueira, fazem ziguezague, avançam pela contramão e pelo acostamento.
Hoje, último dia útil do ano, Lula preside uma reunião para uma "emergência": usar R$ 200 milhões (só!) para tapar buracos, antes de tapar mais covas. Vai decidir quais Estados e estradas ficarão dentro e quais fora. Uma "escolha de Sofia". E uma solução meramente paliativa.
Justiça se faça. Esse escândalo não é obra apenas do governo Lula. É resultado da falta de planejamento, de prioridade e de descaso de vários governos: o de Lula, o de FHC, o dos Estados, com um empurra-empurra infernal. Taí, se há um não-assunto na eleição de 2006 é o estado das estradas. "Atire a primeira pedra..."
Uma sobrinha que fez doutorado na Alemanha não sabe exatamente quem é o culpado, mas está na maior saia justa. Seus amigos europeus queriam visitar o Brasil de... trem! Ela explicou que não há trens. "Ah, então vamos de... carro!" E ela, sem graça: "Bem, que tal de avião mesmo?".
Isso, porém, é só vexame. Pior é ver o brasileiro ameaçado pelos buracos e tragado pela inépcia do Estado.
sexta-feira, dezembro 30, 2005
ELIANE CANTANHÊDE Emergência
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