quinta-feira, dezembro 01, 2005

ABANDONADO PELO PLANALTO, DIRCEU,EX-HOMEM FORTE DO PT, É CASSADO

ABANDONADO PELO PLANALTO, DIRCEU,EX-HOMEM FORTE DO PT, É CASSADO


O Estado de S. Paulo
1/12/2005

Governo lava as mãos e Câmara tira mandato de ex-ministro por 293 votos a 192, com 8 abstenções, 1 voto nulo e 1 em branco

Por 293 votos a favor e 192 contra, a Câmara cassou ontem o mandato de José Dirceu (PT-SP). Houve 8 abstenções, 1 voto nulo e 1 em branco. Com a decisão anunciada hoje de madrugada, Dirceu tornou-se o primeiro petista a ser cassado. Com a pena imposta por seus pares, os direitos políticos de Dirceu foram suspensos até 2015, quando já estará com 70 anos, conta apresentada pelo próprio ex-ministro da Casa Civil no discurso de defesa. Mariângela Duarte (PT-SP) assumirá sua vaga.
Quando o último voto foi lido, restavam quase só petistas no plenário. Todos eles muito acabrunhados. Dirceu foi acusado pelo deputado Júlio Delgado (PSB-MG), relator do processo por quebra de decoro no Conselho de Ética, de ser o mentor do mensalão, de mesada ao petistas e aliados para que votassem a favor de projetos de interesse do Planalto.

O petista negou o mensalão no seu discurso de defesa. Foi dramático. Disse que não queria nem misericórdia nem clemência, mas Justiça. Seus colegas foram inclementes. Tiraram-lhe o mandato.

No discurso de 42 minutos no plenário, Dirceu disse que teve seu direito à defesa prejudicado. O relator do processo, Júlio Delgado contestou: "O deputado disse reiteradas vezes que está sendo perseguido e será cassado sem provas.

As atitudes de seus advogados contradizem esse discurso, pois estão há mais de dois meses atuando no Judiciário para excluir provas que coletamos." Por decisão do STF, os dados sigilosos obtidos com a CPI dos Correios foram retirados do relatório.

Para Delgado, mesmo assim as provas contra Dirceu eram muitas. "Há ainda uma fartura de provas de relações promíscuas, favorecimentos indevidos, abuso da máquina pública. Permanecem em nosso relatório provas robustas que autorizam o juízo condenatório." Ele afirmou que a relação entre Dirceu e Marcos Valério era mais que de amizade, era "de interesses comuns".

Ele também citou Ângela Saragoça, ex-mulher de Dirceu, que recorreu ao ex-ministro no começo do segundo semestre de 2003, pois estaria passando por dificuldades financeiras, e precisava de ajuda. "Ela conheceu Valério, conseguiu emprego no BMG, conseguiu um empréstimo atípico no Banco Rural e conseguiu vender seu apartamento em São Paulo a um sócio de Valério."

O relator citou repasses para a campanha do PTB e o testemunho do presidente do PL, ex-deputado Valdemar Costa Neto, quanto ao acordo para a coligação entre PT e PL. "O acordo representou o repasse de R$ 10 milhões e foi celebrado na presença de Dirceu.

" Depois, lembrou o publicitário Duda Mendonça, que disse ter recebido oficialmente R$ 1,5 milhão da campanha de Lula em 2002, e R$ 10,5 milhões no exterior, como pagamento vindo de caixa 2.

"Dirceu, ninguém pede a perda de seu mandato por sua história e seu passado. Mas justamente porque, com suas atitudes como chefe da Casa Civil, V.Exa. tenha negado o passado e a história."

Segundo o relator, foi o presidente Lula quem disse que Dirceu foi o responsável por construir a base aliada, "que infelizmente manchou e promiscuiu a imagem do Legislativo, comprometeu esta legislatura numa relação ruim".

Em apoio a Dirceu falaram Ricardo Berzoini (SP), presidente do PT, Inaldo Leitão (PL-PB), e Vicente Cascione (PTB-SP). Berzoini pediu sua absolvição, argumentando que não havia nenhum prova cabal contra ele.

Cascione disse que não é amigo de Dirceu e foi seu adversário em todas as eleições que disputou. Mas afirmou que confiava em Dirceu e votar por sua cassação seria uma ignomínia.

Leitão fez um apelo pela preservação de seu mandato.