domingo, novembro 27, 2005

RICARDO NOBLAT Lições esquecidas em Cuba

OESP

Ao desembarcar em Havana como banido político no final de 1969, José Dirceu de Oliveira, então com 23 anos de idade, foi escolhido por instrutores militares cubanos para fazer parte de um grupo de futuros guerrilheiros treinados, principalmente, para sobreviver.

No interior da ilha, por mais de seis meses, aprendeu técnicas de defesa pessoal. Foi apresentado à arte da dissimulação. E manuseou todo tipo de arma. Graduado, voltou a Havana e foi morar sozinho em um apartamento de dois quartos.

Um dia, bateram à sua porta. E ao abri-la, Dirceu foi jogado no chão com um violento pontapé. Reconheceu no homem corpulento à sua frente aquele que o preparara para ser guerrilheiro.

- Da próxima vez eu lhe mato - disse aos berros o homem de codinome Daniel.

Afinal, Dirceu não aprendera que deveria pôr uma corrente de segurança na porta? Não aprendera que só deveria entreabri-la usando um pé como encosto? E não aprendera que em tais circunstâncias era indispensável ter um revólver na mão?

Dali a dois meses, Dirceu bebia com amigos em uma birosca quando foi derrubado por trás com a cadeira e tudo. Era Daniel novamente. Dirceu esquecera uma lição elementar: nunca sentar de costas para qualquer porta.

Como mago da eleição de Lula e depois seu ministro mais poderoso, Dirceu sentou de costas para os políticos e a opinião pública. Daniel deve estar furioso.