domingo, novembro 27, 2005

ELIO GASPARI

FSP


Quiromancia eleitoral para Serra e Lula

Dois exercícios aritméticos para a eleição do ano que vem:
A força de Serra:
Em 2002, José Serra teve 33 milhões de votos. Lula ganhou com 53 milhões. Tem gente que já viu disco voador, mas ninguém se lembra de um eleitor de Serra arrependido.
Admita-se que a eleição de 2006 tenha 100 milhões de votos válidos com a chegada de 10 milhões de novos eleitores. Para facilitar a conta, suponha-se que cada candidato fique com a metade desses votos.
Com 38 milhões, Serra precisa buscar 13 milhões de votos que, em 2002, ficaram no acervo petista.
Esse número equivale a uma taxa de arrependimento de 25% do eleitorado de Lula.
A força de Lula:
O Bolsa-Família atende 11 milhões de lares. Descontando-se as crianças e sabendo-se que muitas dessas famílias são chefiadas pela mãe, pode-se estimar em 22 milhões o número de votos da rede de proteção social do governo. Se Lula arrastasse todos esses eleitores, precisaria buscar outros 24 milhões junto ao eleitorado de 2002.
A boa notícia: ficando com todo o tesouro eleitoral do Bolsa-Família, ele agüenta uma taxa de arrependimento de 45% fora da área de influência dos programas sociais.
A má notícia: Segundo a pesquisa CNT/Sensus, a taxa de rejeição a Lula nessa faixa está em 60%. Pior: Na outra ponta, de cada três beneficiários dos programas sociais, um diz que não votaria nele.

Mais de mil palhaços no salão

Na quarta-feira, o IBGE divulgará os números do comportamento da economia durante o terceiro trimestre. O Brasil fechará o ano patinando na faixa dos 3% de expansão do PIB. O "espetáculo do crescimento" prometido por Lula é apenas uma prorrogação da ruína tucana. O companheiro diz que "o ano que vem vai ser muito melhor, muito melhor". É o modelo Zé Keti de empulhação, tipo "este ano não vai ser igual àquele que passou". Trocam-se lorotas por promessas para enganar "mil palhaços no salão".
Revisitando-se empulhações passadas, evita-se acreditar em novas. Em 1996, o ministro do Planejamento, Antônio Kandir, previa que, se a emenda da reeleição fosse aprovada, a economia poderia crescer entre 7% e 9% ao ano. A emenda pa$$ou, FFHH teve mais quatro anos e neles a economia cresceu a taxas inferiores a 2% anuais. Se os çábios parassem de prever o progresso futuro e discutissem as causas da ruína do presente, todo mundo teria a ganhar, inclusive Lula.

Alice Canabrava, mestra inesquecível

Saiu um grande livro, da historiadora Alice Canabrava (1911-2003). É "História econômica: estudos e pesquisas". Canabrava foi precursora, no Brasil, de um gênero no qual números, palavras e idéias convivem amigavelmente nos parágrafos. Mulher forte, tornou-se a primeira catedrática da USP, em 1951. (Ela conta o gosto do pão que Asmodeu amassou.) Discípula do grande historiador francês Fernand Braudel, teve Fernando Henrique Cardoso como assistente e Antônio Delfim Netto como eterno discípulo.
"História econômica" junta 12 trabalhos que tratam de temas tão diversos como a indústria ao tempo de d. João 6º, ou a relação entre o valor das terras e da escravaria. Alguns capítulos são agrestes. O maior dos textos (63 páginas) chama-se "A grande lavoura" e está publicado na História Geral da Civilização Brasileira. Escrito entre o final dos anos 60 e o início dos 70, deixa no leitor uma doce suspeita. Parece que Jared Diamond ("Armas, Germes e Aço" e "Colapso") morou no prédio e ninguém percebeu. Sua descrição da lavoura brasileira no século 19 é um bailado do saber da história, da geografia e da economia. A descrição do desequilíbrio ecológico provocado pela exploração do cafeeiro, prenúncio de ruína econômica, é leitura inesquecível. Lida dois anos depois de sua morte, Canabrava deixa um travo: será lembrada também por ter sido esquecida.

Gênio de Danuza
"Quase Tudo", o livro de memórias de Danuza Leão, é uma jóia de narrativa da existência de uma mulher fantástica, numa linda cidade habitada por grandes personagens. Sua eterna e particular paixão pelo jornalista Samuel Wainer expõe com belezas as atrações e as distâncias que o amor permite. O maior momento de Danuza está nas duas últimas páginas, uma ode à vida e ao estilo. (Não vale contar nem sugerir do que se trata.) O livro já estava pronto e Danuza ficara infeliz com o final. Achava-o chocho. Fez uma viagem a Paris e, para o bem de todos e felicidade geral da Nação, deu no que deu.

Malan com ervilha
Antonio Palocci acredita no que a banca lhe diz: está para Lula como Pedro Malan esteve para FFHH, é a quilha do governo, garantia de sua estabilidade. A semelhança é grande, mas é menor que a diferença biográfica. Malan não foi prefeito de Ribeirão Preto e nunca comeu molho de tomate com ervilha.

Alca x China
As dificuldades surgidas nas relações comerciais com a China geraram uma reação num pedaço do empresariado que militava contra a Alca. Diante do risco de associar a economia nacional a um projeto de entreposto de consumo de produtos chineses e de exportação de minérios e grãos, preferem conversar com Washington. Enfileiram dois argumentos: 1) Os americanos cumprem a palavra. Os chineses não. As promessas feitas em troca do apoio para a entrada de Pequim na OMC provam isso. 2) O governo e as empresas americanas respondem pelos seus atos junto à opinião pública dos Estados Unidos. Na China isso não existe.

Fritante
A ekipekonômica convenceu-se de que o senador Aloizio Mercadante quer fritar o ministro Antonio Palocci. Convenceu-se com tantos testemunhos que espalha isso na esperança de assar do senador. Do jeito que vai a nave, Lula comerá Palocci frito e Mercadante assado.

Baixo tucanato
Surgiu uma nova praga no Congresso. É o baixo clero tucano. Numa bancada onde já estiveram Mário Covas, Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso, formou-se um varejão. Há tucanos aliados aos partidos que, por falta de voto, querem derrubar a linha da zona de rebaixamento que deixa partidos sem votos longe da bolsa da Viúva. Hoje a lei determina que os partidos consigam 5% dos votos nacionais. Os doutores querem baixar a exigência para 2%. O baixo tucanato defende todas as mudanças que acabam em cambalachos. O deputado Alberto Goldman já revelou que, antes da crise, seu partido aceitava um acordo para criar o voto de lista, aquele que cassa aos eleitores o direito de escolher nominalmente seus candidatos ao Congresso. Essa marmota tem o apoio de tucanos de grande plumagem. Enquanto parte do PSDB segue o caminho da treva, a bancada petista na Câmara tomou o caminho oposto, condenando os casuísmos que beneficiam produtores de CPIs. O PSDB é o único grande partido que não fez qualquer proposta pública para combater as roubalheiras eleitorais. Acredita ter recebido um habeas caixa.

É e não é
Um dia Lula conseguirá unificar suas versões a respeito da morte de Celso Daniel.