O CANDIDATO LULA Em entrevista concedida a emissoras de rádio na quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a insistir que ainda não definiu se será ou não candidato à reeleição. Trata-se de um segredo de polichinelo. A candidatura de Lula é tida como certa no meio político e seu comportamento tem confirmado amplamente essa avaliação.
Não seria exagero dizer que Lula na realidade nunca desceu do palanque, tendo sido ele próprio um dos responsáveis pela antecipação da corrida eleitoral, da qual se queixou na entrevista. É verdade -e não poderia ser muito diferente- que o escândalo de corrupção e a instalação de CPIs criaram um ambiente propício à precipitação da disputa pela Presidência, mas também nesses episódios a origem dos problemas está na maneira como o PT tem exercido o poder. Fracassado na coordenação política, voraz na captura de postos da máquina pública, antiético e imprudente nos meios de financiar seu projeto, o governo Lula semeou a tempestade que está colhendo.
Pode-se até imaginar que o presidente, ao se ver mergulhado num "pesadelo" -termo que ele usou ao saber do caso de um emissário do PT que transportava dinheiro em seus trajes íntimos-, tenha cogitado de não competir no pleito de 2006. Uma decisão nesse sentido poderia ser apresentada como uma atitude coerente de alguém que sempre se manifestou contra a reeleição. Mas, ao que tudo indica, essa hipótese surgiu apenas como mais um ardil na tentativa de reagir à crise.
Hoje está muito claro que nem as convicções de Lula sobre o direito a um segundo mandato nem a gravidade do cenário político se erguem como obstáculos à candidatura. Salvo uma enorme surpresa ou o surgimento de fatos que tornem sua situação insustentável, o presidente irá lutar para permanecer em seu posto por mais quatro anos.
Em seus discursos, o candidato Lula já deixa transparecer parte da estratégia que utilizará em campanha. Vai explorar seu carisma popular, apostar na confusão, negar fatos, afirmar que "tudo" foi investigado, que o "mensalão" não existiu e que seu governo em poucos anos fez no Brasil o que Deus realizou em uma semana no universo -a obra da Criação. A seu favor devem atuar os resultados da economia, apenas medianos, mas positivos à luz do fiasco do crescimento em anos anteriores.
É claro, porém, que o presidente perdeu a condição de favorito e que encontrará muitas dificuldades na provável hipótese de a disputa ser decidida em segundo turno. Seus problemas, além da extrema facilidade com que poderá ser atacado e da possibilidade de as CPIs produzirem novos "pesadelos", estão na dificuldade de costurar uma articulação política que dê solidez e amplitude à candidatura e no elevado índice de rejeição apontado pelas pesquisas.
Não basta gozar de prestígio entre os mais pobres e menos informados, contando com o rendimento eleitoral de programas como o Bolsa-Família. Para que possa aspirar à vitória, Lula precisaria recompor alianças e reconquistar ao menos parte do terreno perdido em algumas frentes, em especial na classe média, que depois de anos de relutância deu um voto de confiança ao PT e sentiu-se, muito justificadamente, traída.