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SÃO PAULO - O mais elementar sentido comum e um tiquinho de informações básicas bastam para tornar completamente inverossímil a versão publicada pela revista "Veja" a respeito dos dólares de Cuba para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Nem vou tratar da discrepância imensa entre os valores mencionados pelos denunciantes. Bastaria, em um país que fosse algo mais que república bananeira, para não levar a sério a denúncia.
Mas o principal defeito de fábrica da acusação é o modus operandi supostamente utilizado. Um país como Cuba, com um regime ameaçado de desestabilização pela maior potência do planeta há quase 50 anos, tem, necessariamente, um serviço de inteligência competente. Ou já teria caído há muito tempo.
A competência inclui, nesse caso, experiência em movimentar recursos financeiros de e para o exterior.
Em sendo assim, se Fidel Castro quisesse de fato financiar a campanha de Lula, não precisaria recorrer aos métodos e percursos burlescos descritos na denúncia dos ex-funcionários de Antonio Palocci em Ribeirão Preto. O dinheiro chegaria, sem complicações e peripécias, limpinho, limpinho aos destinatários.
Que uma revista se disponha a brincar de tablóide britânico é problema dela. Mas que a oposição se disponha a participar da brincadeira já passa a ser claro sinal de indigência mental.
A anunciada intenção de convocar Palocci, então, é risível. Alguém aí acha que o ministro vai dizer à CPI: "Ah, claro, recebemos o dinheiro de Cuba e vamos utilizá-lo para enforcar o último padre na tripa do último burguês?".
A menos, é claro, que governo e oposição prefiram a fantasia à inconveniência, para ambos, de comprovar a fonte do dinheiro porco que circula na política brasileira sem que seja necessário recorrer a Fidel Castro.