sábado, outubro 15, 2005

VEJA MILLÔR

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E isso é tudo o que
eu sei disso tudo

LULA (VOSSO ARQUIMEDES) DISSE: "ME DÊEM UM MUNDO E EU MOVEREI ESTA ALAVANCA".

Dividido por dividido, quem parte e reparte fica com a maior parte. Como se fosse. Que faço então? Choro ensandecido diante do acendedor que acende lampiões antigamente. Morou? Pois não, murmurei, fui despejado. Então me diz, que é que você está fazendo aí no verbete Paz da Enciclopédya? Sacumé; do alto deste obelisco quarenta cegos me contemplam. Foi no Havaí – onde morei em certa tarde de verão – pontilhado por lindos bombardeios japoneses. Sei, sei – tudo o que eu digo não se escreve. Mas eu escrevo e, se te dói, dói muito mais em mim. O resto é silêncio, ou barulho, bibope, neste cemitério sepulcral. Apenas alucinação precoce, como a calvície dos recém-nascidos. Os estrangeiros, porém, todos escrevem best-sellers que vendem bastante e fracassos totais que vendem ainda mais. Então fica calada, apaga a luz e ouve a batida na porta: deve ser alguém, um sem-terra, sem-crase, que bate a porta, ou uma crase infeliz batendo à porta. Fecha os olhos e finge que não ouve. E diz a teu pai que tua mãe virá às oito e meia – a reunião será com ela sozinha. Serviremos então um padre-nosso cheio de ave-marias e muitos não-me-toques. Não quero choro nem vê-la. Pois o que me apetece mais na vida é fenecer a todo tempo. Se vai saltar aqui é melhor usar o pára-quedas. O buraco da fechadura é antigo – a mulher que se vê pelo buraco, muito mais. Me diz agora sem pestanejar – quantas vezes por instante você pestaneja? Tem algo de anormal nesse fenômeno. Vê o arco-da-velha ali no alto? Temos também em preto-e-branco, sem juros, no cartão. E mais não digo. Nem menos também, por falar nisso. No meu epitáfio quero este belo táfio: "Aqui jazz o que não foi em vida e, em morte, nem pensar". Você tem que reconhecer todo insensato que caminha. Sempre digo e repito, quando for tarde demais os passantes dirão todos essa mesma palavra certos de que a climatologia não pode ser mudada sem graves resquícios da importância perdida. Cansados de reconhecer como sensação ou como engodo, todos gargalham e pedem gelo, palavra que me dá um calafro. Passo! Olhe os gansos do lago, todos sujos, não são como os lírios do campo. César, me diz aqui – o que é de César? E criança inocente, onde? Criança não é obsoleto? Mães de família, Impudência não! Impudicícia sempre! Vende tudo – o que restar é meu. O que sobrar eu fico. E o quê-mais, fudeu. Não sei.
O vago eu só pressinto. Mas o mago eu recinto. O cinto, me refreio. O tipo, cantei-o, o jogo, joguei-o, o pato, pateio. O eio, o veio, esses eu pego e leio. O olfato, me diz, é o paladar do nariz? Lasca de madeira que já foi árvore e antes semente e antes árvore e antes lasca e antes semente, mente, ente, folha, galho, pistilo e estame. A sombra só importa se mexe com você parado. O lado é uma contingência do outro lado. O compasso faz o círculo, que inventou o compasso. A tristeza da cobra é ser apenas rabo. O pior do rabo é acompanhar o elefante o tempo todo. O que chegou pede os requisitos, o que se vai só quer as condições. O até já, porém, já vem com nunca mais por dentro. Entra e senta, levanta e sai, e volta e reassenta, e a vida se consome. Ser santo é uma ambição pecaminosa.