sábado, outubro 22, 2005

veja Bons, mas só de bico

Bons, mas só de bico

Oposição pífia e muito assanhamento
eleitoral – assim se comportam
os tucanos Alckmin e Serra


Marcelo Carneiro


Divulgação/Daslu e arquivo/AE
ivo/AE
Alckmin em 1985 e na inauguração da loja em que a filha trabalha e que, segundo a PF, tem alicerces na sonegação

Os tucanos começam a sair do ninho nessa temporada pré-eleitoral. Nos últimos dias, o prefeito de São Paulo, José Serra, e o governador do estado, Geraldo Alckmin, deixaram a cerimônia de lado e passaram a trabalhar abertamente pelo posto de candidato do PSDB à Presidência da República. Alckmin iniciou um périplo pelo país (só nos últimos trinta dias, foram cinco viagens para estados como Bahia, Tocantins e Minas Gerais) e tem organizado seguidas reuniões com empresários com o objetivo de propagandear sua gestão. Uma pesquisa da revista Exame, da Editora Abril, mostrou que ele é o candidato preferido por presidentes das maiores empresas brasileiras. Na reportagem de capa de Exame, Alckmin diz que "está pronto para ser presidente". Há duas semanas, ele recebeu no Palácio dos Bandeirantes o ex-governador do Rio Anthony Garotinho. Além de ser também pré-candidato a presidente, pelo PMDB, Garotinho é um potencial aliado do governador de São Paulo na briga contra Serra. O prefeito, por sua vez, já chegou a afirmar a interlocutores mais próximos que, na estratégia com que pretende ir para o confronto com seu colega de partido, não pretende poupar críticas nem mesmo à gestão do governador. "Ele junta dinheiro, mas não sabe gastar", alfineta um dos comandantes da pré-candidatura de Serra.


Fábio Motta/AE
Serra e Dirceu, em encontro no ano passado: afagos recentes

A guerra que se inicia agora no alto tucanato tem pelo menos um aspecto positivo. Ao explicitar suas pretensões, tanto Serra quanto Alckmin terão de submeter as respectivas administrações a uma avaliação pública. Nesse sentido, o governador já mostrou seu calcanhar-de-aquiles: a segurança pública. Embora os homicídios na cidade de São Paulo tenham caído cerca de 40% em cinco anos, o número total de crimes contra a pessoa e contra o patrimônio não recuou um milímetro. O governador também não conseguiu resolver o crônico problema das rebeliões na Febem. Seus adversários apontam como fraquezas a personalidade e a formação de Alckmin. Os adversários do governador no PSDB sempre sacam um "provinciano demais" quando falam de sua capacidade para ser presidente da República. Grandes homens públicos e presidentes tiveram raízes na província. Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek encaixam-se nesse perfil. O americano Harry Truman e o francês Charles DeGaulle também. No começo eles também cometeram erros provincianos como o de Alckmin, que aceitou inaugurar uma butique em São Paulo, a Villa Daslu, um grande free shop longe do aeroporto. A loja é alvo de investigação de contrabando e sonegação, e a filha do governador é sua funcionária. Mesmo os aliados do governador admitem que foi um mau passo político participar da inauguração da loja.

Na disputa com Lula, o tucano Serra larga com vantagem em relação a Alckmin, segundo as pesquisas. Em um ponto, porém, o governador está na dianteira. Os empresários o preferem porque temem que Serra seja, para a economia, o que, em 2002, muitos pensavam que Lula fosse. As idéias heterodoxas de Serra na economia são conhecidas. Quando foi ministro da Saúde de Fernando Henrique, entrou em diversos confrontos com o então ministro da Fazenda, Pedro Malan, por defender teses obsoletas até pelos padrões dos petistas de agora, como a substituição de importações e o controle do câmbio.

Em busca de espaço entre setores da esquerda, Serra já fez sentir seu estilo no mundo político. Na semana passada, aceitou um encontro com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Há duas semanas, chegou a receber para jantar o deputado federal José Dirceu, personagem central do esquema petista de compra de deputados. Ao mesmo tempo em que se derramava em cordialidades para com o quase cassado petista, o prefeito colocava em prática o hábito que adotou desde o início da crise no governo, o de telefonar diariamente para parlamentares de sua confiança em Brasília, orientando-os a manter o fogo das denúncias contra o PT, ainda que numa temperatura morna.

O comportamento do tipo morde-assopra tem marcado a oposição tucana desde o início da crise: mordem quando é conveniente (para eles, não para o país) e assopram quase todo o tempo. No início de agosto, quando o publicitário Duda Mendonça confessou à CPI dos Correios ter recebido dinheiro não declarado pelo PT à Justiça Eleitoral, em contas bancárias no exterior, tucanos e pefelistas marcaram uma reunião. Conta uma liderança do PFL que, no encontro, os tucanos insistiram na tese de que a oposição deveria vir a público dizer que não desejava o impeachment de Lula, apesar das evidências de que o dinheiro sujo do PT havia servido a outros propósitos, além do pagamento do mensalão. "O PSDB achava que o presidente estava morto politicamente, e a eles interessava mantê-lo nessa situação até as eleições", diz o pefelista. "Agora, como viram que a previsão estava equivocada, se arrependeram." Como oposição, portanto, os tucanos têm se revelado péssimos estrategistas, mas podem ainda endireitar o bico e o rumo do vôo.