Eliane Cantanhede - De pernas para o ar |
Folha de S. Paulo |
21/10/2005 |
Quarta-feira passada, plenário da Câmara dos Deputados. Em pauta, o projeto que adia a entrada em vigor de uma lei que amplia a educação obrigatória no país. Hoje, é dos 7 aos 14 anos. Pela lei, seria dos 6 aos 14 a partir de janeiro de 2006. Pelo projeto, seria adiado para 2008. Tão socialmente justa quanto economicamente cara, a lei dividiu o governo e a oposição. O velho PT de esquerda e as bancadas governistas foram favor do adiamento e contra o política e socialmente correto. O velho PFL de direita, o PSDB, o PPS, o PV, o PDT e o PMDB votaram contra o adiamento e contra o pragmatismo econômico. Ganhou a oposição. Não se fazem PTs, PFLs e PSDBs como antigamente. Valem o pragmatismo e as conveniências, e os dois lados usam suas máquinas de calcular. O governo, para avaliar custos e benefícios, receita e gastos. Olha o Orçamento! Atenção ao superávit! E a oposição para o mero cálculo político: sem a responsabilidade de administrar, vota para a alma do eleitor. De um lado, os pefelistas e tucanos divertiam-se com a situação, alternando discursos a favor do social e contra a "insensibilidade do governo petista". De outro, os petistas, constrangidos, esforçavam-se para explicar dados e a realidade fiscal. A mesma discussão dos anos FHC, mas com os papéis trocados. Resumo: o Planalto continua sem base parlamentar, mesmo depois da vitória de Aldo Rebelo para a presidência da Câmara; o PT continua perplexo diante do exercício do poder, mesmo depois de quase três anos; e a oposição brinca com fogo, mesmo depois de governar e saber da importância da responsabilidade fiscal. De todas essas crises de identidade, de disputas menores, de confronto de egos, pelo menos sobra algo de positivo da confusão de quarta-feira: as criancinhas de 6 anos ganham. A educação agradece. |